Título: MERCADANTE RESPONSABILIZA BC PELA DESACELERAÇÃO DA ECONOMIA ESTE ANO
Autor: Adriana Vasconcelos/Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 23

Líder do governo defende revisão de meta da inflação para juros caírem

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), culpou ontem o Banco Central pela desaceleração da economia e pelo fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2005. Da tribuna, Mercadante defendeu a revisão da meta de inflação para o ano que vem, já que a inflação está em trajetória de queda. Na sua opinião, a mudança permitiria que os juros voltassem a cair e ajudaria o governo a promover um "choque de crédito" na economia:

- Ao combinar juros altos com câmbio apreciado, você compromete o nível de crescimento e de aceleração da economia. O BC abusou da âncora cambial mais uma vez. Toda vez que você a usa para deflacionar a economia, você acaba penalizando as exportações, estimulando as importações e prejudicando o nível de atividade.

Para o senador, o governo não tem motivos para manter a meta de inflação de 2006 em 4,5%, devendo mantê-la em 5,5% ou, no limite, nos 5,1% que é o objetivo perseguido hoje. A inflação cairia, diz, sem provocar aperto monetário. Mercadante também sugere que o BC intervenha na taxa de câmbio, aumentando suas reservas, para melhorar a competitividade das exportações brasileiras.

Oposicionistas prevêem crescimento pífio em 2005

O líder do governo considera ainda que o governo deveria usar a margem fiscal que tem hoje, com um superávit primário extremamente alto, para dar alguns incentivos fiscais, sobretudo para o investimento, que é o ponto mais sensível para manter o ritmo forte de crescimento.

A oposição também não poupou críticas. O líder em exercício do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), também culpou a política de juros, a tributação excessiva e o aperto fiscal do governo pelo que chamou de crescimento pífio. Segundo ele, a previsão é que o Brasil tenha um dos menores crescimentos da América Latina, superando apenas o Paraguai e a Guiana:

- E, mesmo diante de números ruins, o governo comemora de modo indevido e desonesto os resultados da economia.

Resultado pode interferir nas negociações salariais

Já o vice-líder do PFL, deputado Pauderney Avelino (AM), disse que o baixo crescimento se deve ao contingenciamento dos investimentos para pagamento dos custos da máquina administrativa. Segundo ele, o comportamento do PIB reflete os erros que o governo vem cometendo também na política de juros.

As centrais sindicais também fizeram críticas à política econômica do governo. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, também criticou os juros altos no país e disse que o resultado do PIB refletirá nas negociações salariais. Em nota, ele afirmou que o "pífio crescimento do PIB de 0,3% será péssimo para os trabalhadores", especialmente para os da indústria, setor que registrou queda de 1%, e dos serviços, que caiu 0,2%.

- O impacto será maior e dificultará as negociações salariais do segundo semestre deste ano. Conseqüentemente, a renda do trabalhador deve cair. O governo precisa urgente baixar os juros que se tornaram uma trava para o crescimento - disse o sindicalista.

Legenda da foto: ALOIZIO MERCADANTE: O BC abusou da âncora cambial outra vez