Título: DÓLAR INTERROMPE CICLO DE QUEDAS E SOBE 1,56%
Autor: Aguinaldo Novo/Ênio Vieira/Patricia Eloy/Vagner R.
Fonte: O Globo, 01/06/2005, Economia, p. 25

Após recuar quase 5% no mês, moeda fecha a R$2,409 com declarações do BC e alta no mercado internacional

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA. O dólar interrompeu ontem uma trajetória de três quedas consecutivas e subiu 1,56%, cotado a R$2,409. A alta veio no rastro da queda acelerada da moeda americana nos últimos dias, da valorização do dólar no mercado internacional e das declarações do Banco Central (BC) de que poderia retomar os leilões de compra de moeda.

Após quedas seguidas - a moeda recuou quase 5% em maio - havia expectativa de que tesourarias de bancos e empresas pudessem aproveitar os próximos dias para antecipar a compra de dólares, aproveitando a cotação mais baixa. Além disso, o valor do último dia do mês serve de referência para remunerar contratos futuros de câmbio (a Ptax), o que deu ainda mais volatilidade aos negócios. Ontem, a alta do dólar em relação às principais moedas internacionais criou a expectativa de que a moeda subisse também no Brasil.

Somado a isso, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, surpreendeu os investidores. Ao participar de seminário organizado pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) em São Paulo, Azevedo disse que "com as condições adequadas" o BC voltará a comprar dólares para ampliar as reservas internacionais do país. Também afirmou que o governo pretende reduzir a parcela da dívida interna atrelada ao câmbio "indo além do previsto no cronograma".

O efeito foi imediato. O diretor do BC falou pouco depois das 9h, quando as negociações do dólar à vista ainda estavam fechadas. Em vinte minutos de negócios, a cotação subiu 1,20%. Na máxima, a moeda chegou a subir mais de 2%.

- O BC está sempre avaliando as condições de mercado. E no momento que avaliarmos que elas são adequadas para a presença do BC, estamos dispostos a voltar a comprar reservas de maneira a dar continuidade ao programa de acúmulo de reservas internacionais - disse Azevedo.

Em 16 de março deste ano, o BC interrompeu a compra de dólares para elevar as reservas internacionais, mas o Tesouro Nacional continua adquirindo a moeda diariamente no mercado para o pagamento de dívida externa do setor público.

BC não compra dólares desde meados de março

Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, acredita que as declarações de Azevedo detonaram um movimento que só aconteceria mais à frente, com a volta das compras do BC:

-- Era uma tendência natural após as fortes quedas. O problema foi o BC ameaçar comprar dólares. Ameaças geram instabilidade e são completamente fora de contexto num dia em que o mercado já estava de mau humor.

Para o economista Nathan Blanche, sócio da consultoria Tendências, houve exagero na reação dos investidores às declarações do diretor do BC.

- Quem apostava numa alta do dólar aproveitou para especular no mercado e levou o dólar à forte alta de ontem. Após as quedas recentes, era esperado que o dólar subisse em algum momento e as declarações de Azevedo de que o BC poderia voltar ao mercado serviram como munição para essa correção de preços - avalia.

A última vez que o governo interveio no mercado foi em 16 de março. Azevedo disse que o atual nível de reservas internacionais "não é o que o Brasil precisa para ter um grau de segurança" na eventualidade de novo choque externo. O BC estima que o volume de compras para engordar as reservas internacionais do país seria de US$12,3 bilhões em 2005, dos quais US$10,2 bilhões já foram efetivamente comprados.

- As condições de mercado é que vão definir se será possível ou não aproveitar adicionalmente aquilo que já existe neste momento - disse.

Da mesma forma, o diretor do BC afirmou que está "sempre avaliando" as melhores condições para acelerar o programa de redução da dívida interna indexada ao dólar:

- A idéia é que, em paralelo ao programa de acumulação de reservas, temos um programa de redução dos passivos cambiais do setor público. Fizemos isso em fevereiro e março e continuaremos a olhar as condições de mercado, indo além do cronograma.

Ontem o risco-Brasil subiu 0,24%, para 419 pontos e a Bolsa caiu 0,85%.

Os fundos FGTS-Petrobras foram a melhor aplicação em maio, com ganho de 4,71%, pelos dados da Anbid até o último dia 25. O desempenho das ações da Petrobras deve-se à combinação de preços altos do barril com aumento de produção, segundo especialistas. Já o FGTS-Vale, depois de fechar abril como a pior aplicação, voltou a reagir em maio, com alta de 2,04%.

COLABOROU Enio Vieira

"O BC está sempre avaliando as condições de mercado. No momento que avaliarmos que elas são adequadas para a presença do BC, estamos dispostos a voltar a comprar reservas"

RODRIGO AZEVEDO

Diretor do BC

inclui quadro: FGTS-PETROBRAS LIDEROU GANHOS EM MAIO