Título: OPOSIÇÃO FALA EM GOLPE DO GOVERNO
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 02/06/2005, O País, p. 4

Estratégia da base é enterrar CPI na Câmara, sem votação no Senado

BRASÍLIA. A interpretação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre o regimento comum da Câmara e do Senado a respeito das CPI mistas criou ontem uma polêmica com a oposição, que falou em golpe do governo. Renan disse ontem que, se a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovar a inconstitucionalidade da CPI para apurar as denúncias de corrupução nos Correios e o plenário da Câmara (apenas os deputados) confirmar o parecer, os senadores nem precisariam votá-lo. Ou seja, a CPI pode ser enterrada no plenário da Câmara.

A interpretação provocou rebuliço entre os líderes da oposição. No meio da tarde, perguntado novamente sobre o assunto, Renan disse que o regimento é claro: se o plenário da Câmara ratificar a decisão da CCJ, não será preciso que o Senado, em sessão do Congresso, vote. O governo aposta nesta estratégia regimental para impedir a votação no Senado, onde tem minoria.

Imediatamente, parlamentares de oposição correram ao gabinete de Renan para pedir explicações. O presidente do Senado marcou uma reunião de líderes na próxima semana para analisar o regimento.

- Se isso prevalecer, é golpe. Mas eu acredito na imparcialidade do presidente Renan e sei que ele não vai dar essa interpretação ao regimento comum das duas Casas - disse o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto.

- Se a Câmara aprovar o parecer da CCJ, morreu - afirmou o líder do PP, José Janene (PR), reafirmando a aposta do governo.

Relator do caso retirou apoio à CPI

A indicação do deputado Inaldo Leitão (PL-RN) como relator do recurso contra a CPI dos Correios na CCJ também provocou grande irritação nos tucanos e pefelistas da comissão. Eles alegam a suspeição do relator comissão, pois Leitão assinou a CPI e retirou seu nome atendendo à pressão do líder do partido, Sandro Mabel (GO). Leitão, que prometeu entregar o relatório até segunda-feira, reagiu à insinuação de que não terá isenção para elaborá-lo:

- Se eu estou impedido, todos estão. O parecer será técnico.

Disposta a protelar a votação do recurso que questiona a constitucionalidade do requerimento da CPI dos Correios, a oposição usou todos os mecanismos regimentais e conseguiu derrubar a sessão da CCJ ontem.

- Enquanto houver ameaça à CPI, nós vamos inviabilizar as votações na CCJ - avisou o deputado ACM Neto (PFL-BA).

Pefelistas e tucanos criticaram a troca de parlamentares de partidos da base aliada favoráveis à CPI por outros que não assinaram o requerimento, citando o caso de Ivan Ranzolin (PP-SC), substituído por Mário Negromonte (PP-BA). Ranzolin reclamou da substituição na sessão de ontem.

Legenda da foto: BISCAIA (à esquerda), PROFESSOR Luizinho e José Mentor: "É golpe"