Título: Dirceu e Palocci saem em defesa do governo
Autor: Gerson Camarotti, Regina Alvarez e Martha Beck
Fonte: O Globo, 02/06/2005, O País, p. 5

'O país está com as instituições democráticas funcionando. Temos debate democrático, não vejo nada anormal'

BRASÍLIA. O governo entrou em campo ontem para rebater a agenda negativa e afirmar que o clima é de normalidade na política e na economia. A reação do Planalto à crise política ficou nítida ao longo do dia com entrevistas de quatro ministros de peso - Antonio Palocci (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Ciro Gomes (Integração Nacional). Dirceu contestou críticas de que governo e Congresso estejam paralisados:

- O Brasil vive um momento de absoluta tranqüilidade. O país está com as instituições democráticas funcionando. Temos debate democrático, não vejo nada anormal - afirmou Dirceu após a posse da nova presidência do Instituto Brasileiro de Siderurgia.

"Se eu atendo deputados, por que os ministros não?"

Dirceu negou que a possibilidade de instalação da CPI dos Correios afete o país:

- Não vejo nem o governo nem o Congresso paralisados. O governo está governando. O presidente acabou de voltar de uma viagem exitosa ao exterior. Anunciamos uma medida importantíssima, o pregão eletrônico. O governo está enviando ao Congresso a Lei de Saneamento. O Congresso está votando. O Senado está praticamente com a pauta limpa.

No vôo de São Paulo para Brasília, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os ministros têm que ter responsabilidade com o governo, e que eles e integrantes dos altos escalões têm que ajudar na coordenação política, inclusive atendendo parlamentares aliados.

- Se eu que tenho uma agenda mais apertada atendo os deputados, por que os ministros não atendem? - perguntou Lula, demonstrando irritação com queixas sobre a dificuldade de falar com ministros. Ele voltou a dizer que a oposição quer transformar a CPI em palanque.

Para Dirceu, as denúncias não respingam no governo:

- O governo não tem responsabilidade direta nas denúncias. O governo está apurando e o país está acompanhando o que o presidente da República está apurando - disse. - Temos que nos acostumar: com a democracia, o governo perde e ganha. Não podemos transformar aquilo que não é (uma crise) em uma crise. Não há crise no país. O país está em normalidade. O que existe é disputa política em torno de uma questão legítima, democrática, que é a CPI.

Ele justificou a operação do governo para impedir a CPI:

- CPI sempre é legítima. É um direito da minoria querer a CPI. É um direito da maioria analisar se ela é adequada ou não. Estamos numa democracia. Não é só o direito da minoria que vale, o da maioria também.

Fiel a seu estilo mais discreto, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou, em entrevista convocada por ele no ministério, que a discussão da CPI dos Correios não pode ocupar toda a pauta do Legislativo:

- É preciso ter cuidado para que um eventual conflito político em torno de alguns temas não ocupe todo o espaço do Legislativo, a ponto de desprezar a pauta enorme que o país tem no sentido do seu desenvolvimento econômico e social. Essa pauta é necessária para o país de hoje e para o país do futuro.

Palocci disse que o governo preparou uma lista de projetos prioritários e que os ministros encarregados da coordenação política vão discuti-los com os líderes políticos. A agenda foi discutida ontem em reunião entre Palocci, Dirceu e Aldo.

Perguntado se estava empenhado em ajudar o governo na coordenação política no momento de crise, Palocci disse que é um colaborador. Citou Aldo e Dirceu como responsáveis por isso, embora o coordenador formal seja Aldo.

"No governo não tem ministro com perfil técnico"

À tarde, Aldo disse que Palocci participa da articulação política desde que tomou posse. Perguntado se é adequado um ministro técnico fazer articulação política, Aldo disse:

- No governo não tem ministro com perfil técnico. A responsabilidade dele é, antes de tudo, política.

Dirceu foi mais enfático:

- Isso não é fato (Palocci na coordenação política). Palocci não tem envolvimento para além da coordenação de governo. Aldo é que tem responsabilidade pela coordenação política. Só atuamos quando convocados pelo ministro Aldo.