Título: CNBB: QUEM NÃO DEVE, NÃO TEME A VERDADE
Autor: Maria Lima e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 03/06/2005, O País, p. 8

Presidente do STJ também afirma que governo deve deixar investigar

SALVADOR e RIO. O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, recorreu ao Evangelho ontem para defender a instalação da CPI para investigar denúncias de corrupção nos Correios.

- A verdade vos libertará, disse o apóstolo Paulo na sua carta aos Romanos. Portanto, se o governo não tem qualquer responsabilidade sobre o ocorrido, então que não tema a verdade e deixe que sejam aplicadas todas as formas de investigação - disse.

Dom Geraldo afirmou que a corrupção destrói a confiança nos governos e citou os prefeitos de Alagoas acusados de desviarem dinheiro destinado à merenda escolar de crianças:

- São egoístas elevado ao máximo - definiu.

Sobre o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que mostra o Brasil em penúltimo lugar no ranking da distribuição de renda numa lista de 130 países, dom Geraldo alertou sobre os riscos dessa realidade:

- Isso é um perigo, podemos parar no caos - alerta, observando que se pode esperar qualquer coisa de quem não tem esperanças e sente fome.

Quanto às promessa de boas notícias, futuras, feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dom Geraldo ressaltou que o povo tem pressa.

- O povo não pode esperar mais, não se pode deixar para pensar nos pobres amanhã, tem que ser hoje! O país está piorando, seguindo a globalização da corrupção - analisou.

Presidente do STJ critica "operação abafa" de CPI

No Rio, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, manteve o tom ao criticar o governo. Ele chamou de "operação abafa" as manobras da base aliada para impedir a instalação da CPI dos Correios. Vidigal defendeu a comissão, dizendo que ela pode contribuir com o trabalho da Justiça, e minimizou os argumentos do governo de que ela servirá de palanque político para a oposição.

- Não podemos envolver o Judiciário num clima em que nós (magistrados) possamos ser vistos como coniventes com a operação abafa - disse, durante a cerimônia de formatura de 1.800 recrutas que fizeram cursos profissionalizantes na Vila Militar do Rio.

De manhã, Vidigal recorreu a um ditado popular ("quem não deve não teme") ao fazer a mesma crítica. E ironizou a preocupação do governo com as investigações:

- Correios, uma coisa tão pequena. R$3 mil a propina. O câmbio lá está muito baixo.

Edson Vidigal defendeu novamente o controle externo do Judiciário mas disse temer que o Conselho Nacional de Justiça se torne em um "grande trambolho" nas contas públicas. Segundo ele, a criação de novos cargos públicos pode transformar o órgão em um cabide de empregos.

- Poderíamos fazer esse conselho funcionar sem muita burocracia, sem muita gente. Até requisitando servidores da máquina do Judiciário. Já estamos pagando imposto demais. As despesas têm que ser as mínimas possíveis.

Vidigal diz que reforma do Judiciário não resolverá

O presidente do STJ disse ainda que a reforma do Judiciário será apenas o "esparadrapo de uma grande ferida":

- Ela não vai resolver. A reforma é muito mais complexa, ela tem que passar primeiro pela cabeça do juiz. Não adianta colocar leis para serem interpretadas de uma forma diferente do que a sociedade espera. Temos que investir na mentalidade, trabalhar nas escolas da magistratura, criar como eliminatório o exame psicotécnico.