Título: Contra CPI, Palocci promete abrir o cofre
Autor: Maria Lima e Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 03/06/2005, O País, p. 8

OPERAÇÃO ABAFA: SATISFEITA, BASE DO GOVERNO PROMETE VOTAR PROJETOS PARA TIRAR O FOCO DAS INVESTIGAÇÕES NOS CORREIOS

Ministro se reuniu com líderes e, segundo eles, disse que vai liberar emendas para os parlamentares aliados

BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, entrou para valer ontem na articulação governista para barrar a CPI dos Correios. Numa reunião de quase três horas com todos os líderes da base aliada, ele prometeu acelerar o cronograma de pagamento das emendas dos parlamentares ao Orçamento da União e também a liberação dos investimentos dos ministérios represados até agora.

O pagamento de emendas deve começar a ser feito nos próximos 15 dias, prazo previsto para a votação da constitucionalidade da CPI no plenário da Câmara. Palocci foi cuidadoso e evitou falar em números. Mas os líderes confirmaram o recado do ministro e detalharam a reivindicação da base: a liberação de emendas de R$1,5 milhão para cada um dos 255 deputados aliados que votariam com o governo, num total de R$382,5 milhões.

Segundo o líder do PL na área econômica, Sandro Mabel (GO), com a promessa as "coisas" estão se acertando:

- O papel do Palocci foi garantir o cumprimento da lei, dizer que vai pagar as emendas. O que o governo não queria entender, agora está entendendo: tem de cumprir a lei orçamentária e ajustar os cargos nos estados - disse Mabel.

- Se tiver uma liberação planejada, ajuda a acabar com a insatisfação dos parlamentares em relação ao governo. Eu reclamei da falta de planejamento. Outros reclamaram da falta de pagamento mesmo - confirmou o líder do PSB Renato Casagrande (ES).

Redistribuição de cargos em pauta

Para tirar o foco do noticiário da CPI, os líderes decidiram também fechar com o ministro da Fazenda uma agenda com 11 projetos que seriam votados até o fim do ano pelo Congresso. Foi excluída a reforma tributária, que fica mesmo para o ano que vem. Na reunião, que teve a participação do chefe da Casa Civil, José Dirceu, mas não a do ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, também se discutiu uma melhor divisão do bolo de cargos federais nos estados onde o PT tem a grande maioria.

Coube ao líder do PMDB, José Borba (PR), manifestar a irritação com a liberação das emendas a conta gotas: do orçamento de investimento de R$21,6 bilhões, o governo só liberou até agora R$339,6 milhões. Palocci prometeu que não concentrar as liberações no fim do ano como aconteceu nos últimos dois anos.

A notícia chegou rapidamente ao Congresso e levou euforia aos parlamentares.

- O negócio não é Dirceu nem Aldo. É o Palocci, que é o dono do dinheiro - comemorava o deputado Philemon Rodrigues (PTB-PB).

Na reunião com Palocci no Palácio do Planalto, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), apelou para que todos os líderes centrem fogo pesado na estratégia de derrubar a CPI na CCJ e no plenário. A idéia de levar a votação direto para o plenário, sem a votação na CCJ, e de optar por um parecer alternativo, focando a investigação apenas nos Correios, foram rejeitadas. A oposição já aceitava ontem essa alternativa.

- Se o governo ficar mais tranqüilo, podemos centrar as investigações só nos Correios. O que não pode é deixar de investigar. Tem muito ladrão lá - disse o autor do requerimento e líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia(RJ).

COLABOROU: Ilimar Franco