Título: BALANÇA JÁ SENTE A ALTA DO REAL
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 03/06/2005, Economia, p. 21

Exportações se estabilizam e compras externas crescem mais

BRASÍLIA. Embora continue batendo recordes em exportações - foram US$9,8 bilhões em maio - a balança comercial brasileira já reflete os efeitos da valorização do real frente ao dólar, na visão de alguns analistas. As vendas externas estariam se estabilizando e as importações devem se manter em alta, incentivadas pelo câmbio. O aumento superior a 30% das importações de matérias-primas, verificado em maio, seria um sinal de que a indústria está substituindo produtos nacionais por importados, o que acabará afetando a balança comercial, na avaliação da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

- O impacto mais significativo do câmbio na balança deverá ocorrer no segundo semestre, mas em alguns itens o câmbio valorizado é evidente - afirma o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Castro destaca que, atualmente, pode-se fazer um fechamento de câmbio com um ano de antecedência e o momento é muito favorável para importar.

- Já detectamos alguma mudança de patamar na média diária das importações. Era de US$260 milhões e, desde a última semana de abril, a média passou para US$290 milhões - diz Castro.

Associação: 'É difícil retomar negócios em caso de abandono'

Esta é a mesma opinião de Benedito Pires de Almeida, diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex). Ele lembra que, com a queda do dólar, cai o custo da importação, o que se reflete na produção. Por outro lado, destaca que o aumento de 33% das compras externas de bens de capital tem como ponto positivo o fato de que fica mais barato investir.

O secretário de Comércio Exterior, Ivan Ramalho, até admite que está havendo alguma substituição nas importações. Mas, a seu ver, não há nada com peso significativo.

- Por enquanto, consideramos que o aumento por causa da substituição é irrisório - diz Ramalho.

Quanto às exportações, os números continuam bem por diversas razões: a boa fase dos preços internacionais de commodities, a conquista de novos mercados, a diversificação da pauta e, principalmente, o compromisso dos exportadores com seus clientes.

- Mesmo perdendo dinheiro, as empresas não podem deixar de vender. É muito difícil retomar os negócios, em caso de um abandono - enfatiza o diretor da Abracex.