Título: PARA BANCO JP MORGAN, BRASIL NÃO TERÁ CLASSIFICAÇÃO MELHOR ANTES DE 2010
Autor:
Fonte: O Globo, 03/06/2005, Economia, p. 22

Instituição sugere política fiscal mais rigorosa para reduzir dívida pública

SÃO PAULO. O Brasil deve demorar pelo menos cinco anos para obter o chamado investment grade (bom país para se investir) das agências de classificação de risco, afirmaram analistas do banco de investimentos JP Morgan em relatório divulgado ontem. Chile e México, por exemplo, têm essa classificação.

Para o banco, o país está no caminho para elevar sua classificação, mas o processo deve acontecer de maneira lenta devido às dificuldades do governo para melhorar o perfil da dívida pública interna.

"A dinâmica da dívida doméstica do Brasil indica que este processo deve levar, pelo menos cinco anos, podendo ser ainda maior", ressaltam os analistas no relatório.

Banco não acredita que governo eleve superávit

Para o JP Morgan, o Brasil alcançaria o patamar de investment grade mais rapidamente se o governo adotasse uma política fiscal mais rigorosa, aumentando a qualidade e o tamanho do superávit primário das contas públicas. Nos quatro primeiros meses deste ano, o Brasil acumula um superávit recorde, de R$44,012 bilhões - 7,26% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país). Em 12 meses, o superávit é de 5,06%.

Entretanto, os analistas consideram pouco provável que o governo aumente a meta fiscal, atualmente em 4,25% do PIB, principalmente considerando as eleições presidenciais de 2006. Para o JP Morgan, a tendência é de que o governo mantenha um nível de ajuste fiscal próximo ao verificado nos últimos dois anos.

"Não duvidamos de que o atual comprometimento com a disciplina fiscal será mantido, mas não estimamos uma maior evolução no perfil da dívida doméstica", diz o relatório. "Contudo, na falta de superávits primários maiores e melhores, a lenta redução das chamadas vulnerabilidades fiscais continuará impedindo um movimento mais rápido em direção a uma eventual melhora no risco de crédito do país", concluem os analistas.

Alguns grandes investidores, como os fundos de pensão americanos, são proibidos de investir em países com classificação inferior a investment grade.

Poucos dias antes de assumir o cargo, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, afirmou que o Brasil teria condições de alcançar o investment grade já em 2007. A dívida líquida brasileira correspondia, em abril, a 50,1% do PIB, segundo o Banco Central.