Título: PALOCCI E MEIRELLES TENTAM TRANQÜILIZAR LULA
Autor: Gerson Camarotti e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 03/06/2005, Economia, p. 22

Presidente estava mais preocupado com economia do que com a crise política

BRASÍLIA. O otimismo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou na quarta-feira ao capitanear a operação para traçar cenários positivos para a economia em 2005 foi construído pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Eles foram chamados na terça-feira ao Palácio do Planalto - dia da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) - para dar explicações ao presidente, que questionava o "excesso de superávit primário", o real valorizado e os juros altos. E garantiram a Lula: a expansão econômica deste ano será de 4%, como as previsões oficiais sustentam.

Apesar de tentar passar otimismo em relação à economia brasileira em 2005, este é o tema que mais tem preocupado o presidente. Segundo um ministro petista, a queda no ritmo de crescimento e as elevadas taxas de juros preocupam Lula muito mais do que a crise política provocada pelas denúncias de corrupção nos Correios.

Segundo um ministro, Lula só teria ficado mais tranqüilo com a explicação de Palocci de que o país estava crescendo há oito trimestres consecutivos, e que era normal uma diminuição neste ritmo. Lula passou a incorporar esta explicação, o que lhe motivou a colocar a linha de frente do governo para difundi-la, incluindo ele próprio, em discurso feito em São Paulo.

Para um petista, Lula demonstrou disposição em cobrar da área econômica uma redução do que chamou de "excesso do excesso" do resultado do superávit primário - de janeiro a abril o superávit primário foi de 7,26% do PIB, enquanto ficou em 5,06% em 12 meses, acima da meta prevista para 2005, que é de 4,25%. Lula quer que a equipe econômica utilize parte desse "excesso" de superávit fiscal para realizar obras de infra-estrutura. Na avaliação do presidente, isso poderia ajudar a mudar a tendência de queda no crescimento do PIB do país.

Depois de uma reunião ontem no Palácio do Planalto, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, afirmou que o presidente Lula estava muito otimista durante o encontro sobre o desempenho da economia este ano. Golfarb disse acreditar que o PIB brasileiro vai crescer em 2005, apesar das dificuldades, como juros altos e câmbio. O presidente da Anfavea e dirigentes do setor automotivo estiveram no Palácio do Planalto para convidar Lula para participar da 15ª Fenatran, que será realizada em outubro, em São Paulo.

- Acredito que o crescimento este ano vai acontecer, mas a magnitude é que ainda temos que ver - disse.

Segundo participantes do encontro, Lula quis saber a situação do setor e se os empresários estavam tendo dificuldades para exportar. A previsão da Anfavea para este ano é de US$9 bilhões em exportações e um crescimento interno do setor entre 4% e 5%.