Título: GOVERNO AFINA DISCURSO DE OTIMISMO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 02/06/2005, Economia, p. 24

Dirceu e Alencar apostam em crescimento forte, apesar do 1º trimestre

BRASÍLIA. O tom do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - reafirmando o combate prioritário à inflação e prevendo um PIB de 2005 surpreendente - foi parte de uma operação discutida na terça-feira e que envolveu a linha de frente do Executivo. O objetivo era defender e reafirmar a política de juros altos, considerada a vilã da economia entre janeiro e março; e traçar um cenário positivo para os trimestres seguintes, tentando quebrar o efeito negativo da divulgação dos números decepcionantes do crescimento econômico no primeiro trimestre.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, convocou coletiva. Já José Dirceu, chefe da Casa Civil, e o vice-presidente José Alencar aproveitaram evento comum para fazer prognósticos favoráveis. Crítico nos bastidores da política econômica, Dirceu, saiu ontem em defesa do governo e disse estar seguro de que o país vai crescer mais de 4% este ano, e criar 1,5 milhão de empregos, eximindo o BC de culpa:

- Em 2003 todos diziam que a política de juros iria inviabilizar o crescimento do país. A autoridade monetária adotou a política de juros quando ela era necessária, depois reduziu os juros e o país cresceu 5,2% (sic) em 2004. Então, devagar com o andor que os juros estão aí para combater a inflação, e o governo está fazendo a parte dele, reduzindo tributos, reduzindo o custo na infra-estrutura, investindo na educação, fazendo política industrial e tecnológica.

O ministro afirmou ainda que o governo está fazendo sua parte para promover o crescimento, cortando impostos, trabalhando para reduzir o déficit da Previdência e os gastos de custeio e investindo em infra-estrutura.

- A autoridade monetária vai adotar o comportamento de reduzir os juros quando a inflação arrefecer. Mas o juro é uma decisão do Banco Central, que tem autonomia.

Dirceu criticou a decisão das agências de risco de manterem a classificação do Brasil por tanto tempo:

- Não há nenhuma razão para isso. A dívida em relação ao PIB está caindo. Com relação às exportações, aumentou o saldo comercial e de conta corrente, a bolsa está subindo e o dólar está caindo. O país está crescendo.

'Não tenho dúvida de queBrasil vai reagir', diz Alencar

Também presente à posse da nova diretoria do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), o vice-presidente da República, José Alencar, minimizou o fraco desempenho do PIB no primeiro trimestre deste ano e afirmou que a economia voltará a crescer de forma mais acentuada no segundo semestre.

- Há tempo suficiente para a retomada do desenvolvimento. As potencialidades do nosso país são grandes. Não tenho dúvida de que o Brasil vai reagir e crescer a taxas elevadas porque é o que nós precisamos - afirmou Alencar.

O vice-presidente também criticou a decisão das agências de reavaliar o risco atribuído ao país.

- Essas agências precisam conhecer melhor o Brasil. Porque o Brasil é risco zero.

Mas, ao defender o Brasil como destino de investimentos, Alencar tomou rumo diferente dos demais membros do governo e voltou a condenar as elevadas taxas de juros:

- Nós temos que romper com o regime de juros que vige no país.

Alencar disse ainda que o presidente Lula está atento para a situação, mas confirmou que o governo apresentará novas medidas para o país retomar o crescimento:

- O presidente Lula é sensível. Obviamente está atento e teremos ainda no governo dele soluções excepcionais para que o país retome o período de longo prazo de crescimento sustentável. Nós precisamos trazer os juros para um patamar de mercado internacional. Isso é possível e estamos trabalhando para isso.