Título: Anatel admite que repassou dados ao IBGE
Autor: Flávia Oliveira/Mônica Tavares
Fonte: O Globo, 02/06/2005, Economia, p. 26

Agência corrigiu, em maio, receita operacional da telefonia móvel. Número provocou redução do PIB de 2004

BRASÍLIA e RIO. Um dia depois de negar, por meio de sua assessoria de imprensa, que enviara ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informações sobre o desempenho financeiro da telefonia móvel, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) voltou atrás. Um alto dirigente da agência admitiu que o IBGE recebeu da Anatel, em maio, os resultados operacionais líquidos das operadoras que provocaram a revisão dos cálculos do Produto Interno Bruto (PIB): em vez de 5,2%, a economia cresceu 4,9% em 2004.

A mesma fonte informou que um erro nos dados da Claro - e não da Vivo, como fora informado na véspera - provocou uma redução de R$2 bilhões na receita das operadoras de celular. Com a revisão, o resultado operacional líquido de 2004 caiu de R$29 bilhões para R$27 bilhões. O problema foi com a Tess, operadora do interior de São Paulo comprada pela Claro.

PIB das comunicações caiu 1,4% em vez de subir 2%

No dia 6 de maio, a agência informou ao IBGE que a receita da Tess fora de R$2,9 bilhões, valor próximo ao das informações enviadas em fevereiro. O instituto teria questionado os dados e, dias depois, um técnico da Anatel corrigiu a informação para R$840 milhões.

Os novos números reduziram fortemente a expansão da telefonia móvel, que não foi capaz de compensar a queda da telefonia fixa no PIB das comunicações. Com isso, o crescimento inicial de 2% transformou-se numa queda de 1,4%. E o PIB nacional acabou diminuído em 0,3 ponto percentual. Em razão disso, o executivo da Anatel pôs em dúvida o peso que o IBGE atribuiu às comunicações no PIB.

A Anatel também alega que os números foram repassados informalmente ao IBGE. O instituto recebeu os dados por e-mail (um em fevereiro e dois em maio), mas a fonte afirma que os arquivos deveriam ser enviados por meio de correspondência oficial.

Ontem, o IBGE evitou alimentar a polêmica. Coordenador de Contas Nacionais do instituto, Roberto Olinto afirmou que tem arquivadas todas as informações repassadas pela Anatel:

- Os números do PIB estão corretos. Jamais teríamos feito uma revisão desse porte sem checar cuidadosamente as informações e séries históricas.

Os técnicos dos dois órgãos não se encontraram depois das desavenças sobre o PIB. Amanhã, funcionários do IBGE e da Anatel se reúnem para tratar do índice setorial que será usado nos contratos de concessão que vão vigorar a partir de 2006. O índice vai substituir o IGP-DI, que reajusta atualmente as tarifas de telefonia.