Título: MERCADO PREVÊ FIM DA ALTA DE JUROS. DÓLAR SOBE
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 02/06/2005, Economia, p. 27

Taxas caem no mercado futuro. Moeda americana fecha na máxima do dia, a R$2,44. Bovespa valoriza 2,94%

Especulações, expectativa de retomada das compras de moeda pelo Banco Central (BC), alta do dólar no mercado internacional e redefinição dos investimentos das tesourarias dos bancos fizeram a moeda americana subir pelo segundo dia consecutivo. A expectativa de que as altas de juros possam ter chegado ao fim - sustentadas pelo crescimento econômico abaixo do esperado - aumentou a atratividade do dólar após semanas de queda.

Três dias após atingir a menor cotação do ano (R$2,372), o dólar encerrou os negócios em alta de 1,45%, valendo R$2,444, a máxima do dia. Em apenas dois dias, a valorização frente ao real já é de 3,04%. Em maio, o dólar havia recuado 4,74%.

As apostas dos bancos numa queda do dólar (as chamadas posições vendidas) encerraram maio em US$3,311 bilhões - um dos maiores níveis dos últimos meses - ante US$2,5 bilhões em abril e US$1,368 bilhão em janeiro. Com a possibilidade de volta do BC ao mercado cambial - anteontem, o diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, acenou com a perspectiva de retomada dos leilões de compra de dólares - as tesourarias dos bancos aproveitaram para reduzir essas apostas, o que ajudou o dólar a subir.

BC não compra dólares desde meados de março

Na avaliação de Alexandre Vasarhelyi, chefe da mesa de câmbio do Banco ING, esse tipo de reação é natural:

- O BC avisou que poderia voltar ao mercado e isso deu tempo para que as instituições não fossem pegas de surpresa e pudessem se preparar para uma eventual alta da moeda americana. Do contrário, uma entrada sem aviso do BC poderia gerar fortes oscilações no mercado, levando o dólar a patamares bastante elevados.

Há cerca de três meses o BC não atua no mercado de câmbio. Desde então, a cotação da moeda recuou de R$2,76 para R$2,444 - uma queda de 11,45%. As declarações feitas ontem pelo ministro José Dirceu, chefe da Casa Civil, de que o dólar mais fraco prejudica o setor siderúrgico reforçaram as especulações sobre a alta da moeda.

A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,3% nos três primeiros meses deste ano, divulgada anteontem pelo IBGE, frustrou investidores, mas aumentou também as apostas de que, diante de um crescimento mais fraco, o Banco Central (BC) pode interromper já em junho a trajetória de alta da taxa Selic.

PIB mais fraco aumenta expectativa de juro estável

Essa é a avaliação de Felipe Illanes, estrategista de Renda Fixa do banco de investimentos americano Merrill Lynch. Para ele, os dados do IBGE permitem esperar que a Selic já possa iniciar um ciclo de quedas em agosto, especialmente porque além do crescimento menor, as expectativas de inflação começaram a recuar há duas semanas.

O banco revisou ontem suas projeções para o PIB - de 3,5% para 3,2% em 2005 e para o real - de R$3,05 para R$2,90 até o fim do ano. A expectativa de que o BC não suba mais os juros fez a Bolsa subir 2,94% - apenas uma ação fechou os negócios em queda. As taxas projetadas pelos contratos futuros de juros negociados recuaram. Nos mais negociados, com vencimento em janeiro do ano que vem, as taxas caíram de 19,45% para 19,39% ao ano. O risco-Brasil subiu 1,43%, para 425 pontos e o Global 40, título mais negociado da dívida externa, ficou estável em 118,85% do valor de face.

INCLUI QUADRO: CONFIRA A TRAJETÓRIA DA MOEDA