Título: CONGRESSO BOLIVIANO ADIA SESSÃO SOBRE CRISE NO PAÍS PELA SEGUNDA VEZ
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 02/06/2005, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 37

Bloqueios isolam cidades e protestos deixam 5 pessoas gravemente feridas

BUENOS AIRES. Fracassou ontem a sessão convocada pelo Congresso da Bolívia para iniciar o debate sobre as questões que desencadearam a gravíssima crise política que assola o país. Paralelamente, os protestos se espalharam por todos os departamentos (estados) bolivianos e praticamente isolaram o país: de acordo com dados do Serviço Nacional de Caminhos (SNC), 60% das estradas estavam bloqueadas ontem, incluindo todas as vias de comunicação da Bolívia com a Argentina, Paraguai, Peru e Chile.

No departamento de Santa Cruz, forte opositor do presidente Carlos Mesa, foram registrados incidentes entre trabalhadores rurais e grupos armados da União Juvenil Cruceñista que, segundo a imprensa local, deixaram cinco pessoas gravemente feridas.

Como ocorre todos os dias há várias semanas, a capital do país foi invadida por manifestantes que ocuparam o centro da cidade para exigir que o Congresso, que na véspera não havia conseguido se reunir, começasse a discutir os dois assuntos mais importantes da agenda nacional: a convocação de referendos sobre a autonomia dos departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando, e a realização de uma Assembléia Constituinte.

- A sessão fracassou. Agora vamos esperar para ver se os chefes de todas as bancadas conseguem chegar a um consenso básico que nos permita avançar - disse ao GLOBO um integrante do Movimento ao Socialismo (MAS), partido comandado pelo deputado e líder cocaleiro Evo Morales.

Segundo a fonte, a sessão poderia ser retomada ainda ontem ou hoje.

- O principal ponto de conflito é que a agenda de discussões para hoje (ontem) não incluía a questão da Assembléia Constituinte - contou.

O MAS, um dos principais partidos opositores do governo Mesa, defende a convocação da Assembléia Constituinte e dos referendos no mesmo dia, proposta que é rejeitada por outros partidos políticos. O clima no Congresso boliviano é de tensão. Muitos setores acusam o presidente do Congresso, Hormando Vaca Diez, de querer boicotar os debates e assim aprofundar ainda mais a crise política do país. Na noite de terça-feira, um numeroso grupo de deputados bolivianos exigiu a renúncia de Vaca Diez, mas o pedido não prosperou.

Ontem, cerca de mil manifestantes que defendem a nacionalização dos recursos energéticos do país quebraram janelas, atacaram lojistas e destruíram carros em bairros de classe alta de La Paz. Os moradores dos bairros atacados dizem que se sentem ameaçados pelos cada vez mais violentos protestos na capital do país. Alheio ao caos que predomina na cidade, o presidente Mesa parabenizou ontem os policiais bolivianos "pela prudência demonstrada nas marchas" que nas últimas semanas tumultuaram a vida dos habitantes de La Paz.

Legenda da foto: ÍNDIOS FAZEM passeata em La Paz: pressão por nacionalização no setor de energia