Título: ABISMO ENTRE POBRES E RICOS
Autor:
Fonte: O Globo, 04/06/2005, O Globo / Suplemento Especial, p. 2

filósofo Emir Sader diz que é preciso repartir a tecnologia

Ofilósofo e cientista político Emir Sader, coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj, não tem meias palavras: para ele, não é cidadão o trabalhador sem carteira assinada. E foi justamente em torno do binômio trabalho e cidadania que Sader mobilizou a platéia.

¿ Quem trabalha sem carteira assinada não é cidadão. Não tem direitos elementares, não pode se associar, não pode apelar à Justiça, não tem os direitos sociais fundamentais. E quem não tem direitos não é cidadão. É indivíduo, é pessoa, mas não é cidadão. Portanto, a maioria dos brasileiros não é cidadã numa atividade que é fundamental.

Para o filósofo, a existência de um contingente de não-cidadãos ¿ jovens sem trabalho formal, em geral negros ou mulatos e que, ¿na gíria policial, ficam perambulando pelas ruas¿ ¿ é um grave problema a ser resolvido.

¿ Para o sistema, eles não fazem falta. Não são os trabalhadores altamente qualificados de que o mercado precisa, tampouco os consumidores de alto luxo. São excedentes. É para esses jovens que a escola deve dirigir seus esforços. Ajudá-los a entender como o Brasil se constituiu. Porque o Brasil é o país mais injusto do mundo. Não em termos de miséria, mas em relação à distância entre a pobreza e a riqueza.

Na opinião de Sader, para dar oportunidade aos excedentes é preciso repartir tecnologia:

¿ A Humanidade nunca teve tanta tecnologia como hoje para ajudar o mundo. E, no entanto, mesmo com tecnologias tão desenvolvidas, nunca nos sentimos tão impotentes para tornar o mundo melhor.