Título: `Neste governo eu não ouvi falar em barganha¿
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 04/06/2005, O País, p. 8

Severino nega que governo vá liberar emendas para tentar enterrar CPI depois de café da manhã com Palocci

BRASÍLIA. Pelo segundo dia consecutivo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, manteve contatos com políticos dentro do esforço da articulação do governo para tentar barrar a instalação da CPI dos Correios no Congresso. Palocci foi ontem de manhã à residência oficial do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), para um café da manhã que durou mais de uma hora.

Na saída, Severino saiu com a preocupação de negar que a liberação de verbas das emendas parlamentares tenha relação com a operação do governo para barrar a CPI. Segundo ele, o governo apenas cumpre o que já deveria ter feito há muito tempo e está fazendo agora porque as contas públicas estão registrando superávit.

¿ As emendas estão sendo liberadas normalmente porque este é o caminho das emendas. Ele (o governo) não está fazendo favor algum em liberar as emendas, isso é obrigação do governo. Não vejo nisso qualquer troca, permuta ¿ disse Severino. ¿ Errar é humano. Se eles (o governo) erraram antes, por não terem liberado as verbas, naturalmente, agora, com o superávit que está tendo a Fazenda, o governo vai poder fazer o pagamento do que está devendo aos municípios.

Severino fez questão de citar as razões pelas quais o governo, na sua opinião, deve liberar as emendas: o parlamentar inclui as emendas no Orçamento, o presidente da República sanciona e vira lei. Para ele, o governo é co-responsável pelo cumprimento da liberação.

¿ Não vai haver barganha alguma. Neste governo eu não ouvi falar em barganha.

Segundo Severino, ele e Palocci conversaram sobre as verbas para a safra de arroz e a liberação da pauta da Câmara.

O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), minimizou as críticas às promessas de liberação de quase R$400 milhões das verbas das emendas parlamentares. Segundo ele, há uma reclamação constante de deputados da base de que as emendas sancionadas no Orçamento não são liberadas pelo governo. Chinaglia lembrou que no primeiro semestre do ano passado foram liberados R$500 milhões em emendas e que se este semestre o valor girar em torno de R$400 milhões estará dentro de um padrão.

¿ Se não libera a verba da emenda dizem que o deputado vai se vingar; se libera, está barganhando. De minha parte, para o bem de meu trabalho, sinceramente espero que o governo libere logo as emendas para que as reclamações cessem ¿ justificou Chinaglia.

O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, disse que a liberação de emendas vai continuar e não tem relação com a CPI.