Título: Todos os homens de Roberto Jefferson
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O País, p. 3

TENTÁCULOS DO PODER

Afilhados políticos do presidente do PTB controlam cerca de R$4 bilhões em cargos de segundo escalão

Opresidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), adotou uma estratégia de ocupação de poder no governo Lula. Em vez de lutar por ministérios com visibilidade política, preferiu funções técnicas e conseguiu montar uma rede em cargos do segundo escalão, principalmente nas estatais. Os afilhados políticos de Jefferson ocupam ao menos oito cargos importantes, responsáveis pela gestão de cerca de R$4 bilhões anuais. Além dos implicados nos escândalos dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), dois outros indicados por Jefferson para a Delegacia Regional do Trabalho no Rio e para a Infraero foram investigados pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União.

Na contabilidade foram excluídos dois cargos que já não estão sob controle do deputado: a diretoria administrativa dos Correios, que era ocupada por Antonio Osório Batista, afastado em maio depois de denúncias envolvendo a estatal; e a Superintendência Regional Leste da Infraero, que foi comandada por Juarez Lessa, exonerado em 2003.

A preferência de Jefferson por cargos técnicos foi explicitada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações da reforma ministerial. Numa conversa no Planalto, em março, Jefferson disse que não queria um ministério e que estava satisfeito com a representação do PTB no primeiro escalão, o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. Mas cobrou agilidade na distribuição de cargos federais nos estados.

A estratégia surtiu efeito: há dois meses ele passou a controlar o comando do IRB, com Luiz Appolônio Netto, cargo também cobiçado pelo PP, e a poderosa vice-presidência de Logística da Caixa Econômica Federal, com Carlos Alberto Cotta.

Segundo um ministro petista, em troca do apoio do PTB, Jefferson passou a controlar cargos em estatais e postos-chaves do Executivo. O ministro diz que é uma aliança arriscada, mas que, em um governo de coalizão, não há outra saída.

No IRB, Jefferson indicou Luiz Appolônio Neto para substituir o economista Lídio Duarte, que deixou o cargo há dois meses. A Polícia Federal investiga a denúncia feita pela revista ¿Veja¿ de que Lídio sofreu pressão para pagar mesada de R$400 mil ao PTB para permanecer no cargo. O IRB movimenta US$450 milhões por ano no mercado de resseguros.

Governo mandou vigiar indicados do PTB

Antes de Carlos Alberto Cotta ser aprovado para a Caixa, o governo investigou seu currículo. A vice-presidência de Logística administra os jogos de loteria. É considerada chave para expandir a rede de atendimento da Caixa, via loterias.

A nomeação foi confirmada, mas a Caixa seguiu a recomendação do governo de controlar de perto os passos do indicado do PTB. A estratégia foi adotada também na Delegacia Regional do Trabalho do Rio, comandada por Henrique Barbosa de Pinho e Silva, e na presidência da Eletronorte, ocupada por Roberto Salmeron, ambas indicações de Jefferson.

Na Eletronorte, responsável pela segunda etapa da Hidrelétrica de Tucuruí (PA), orçada em US$1,3 bilhão, o governo nomeou para a diretoria de Engenharia Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Mesmo sob vigilância, o presidente do PTB emplacou aliados em cargos com grande poder. Há um ano, conseguiu a nomeação do diretor de Planejamento e Gestão da Eletronuclear, Luiz Rondon, responsável pela administração de um orçamento de R$1,8 bilhão em 2005. Para a diretoria de Operações Logísticas da BR Distribuidora, indicou Fernando Cunha, que controla R$800 milhões em negócios por ano.

Ainda estão na cota de Roberto Jefferson o diretor da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Alfredo Luiz de Almeida Cardoso, que integra o grupo responsável pela regulação e fiscalização do mercado de planos de saúde, que atende 37 milhões de pessoas. Sua indicação causou polêmica no Congresso pelo fato de Cardoso já ter sido diretor da Amil, uma das maiores empresas privadas de planos de saúde, e ter sido proprietário de uma empresa de consultoria para essas operadoras.

Na Embratur, ele apadrinhou o diretor de Administrações e Finanças, Emerson Palmieri, indicado pelo ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, já morto. Palmieri, ex-tesoureiro do PTB e da campanha presidencial do ministro Ciro Gomes, tornou-se homem de confiança de Jefferson.

Procurado pelo GLOBO, Jefferson informou por meio de sua assessoria que não comentaria o caso. Em discurso na Câmara, no dia 17 de maio, disse que não tinha problema de dizer que cargos o PTB ocupa no governo. Palmieri não retornou as ligações. Carlos Alberto Cotta, Roberto Salmeron e Luiz Rondon não quiseram falar.