Título: MAIS POBRE, MAS NEM TANTO
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O País, p. 4

Apesar da redução de bens, Jefferson tem alto padrão de vida

Para a Receita Federal, o advogado Roberto Jefferson Monteiro Francisco é um típico brasileiro de classe média. Em 2002, aos 50 anos, construiu um patrimônio declarado de pouco mais de R$210 mil. Tinha uma casa, dois carros e algumas linhas de telefone. E, como aconteceu com muitos trabalhadores nessa faixa de renda, declarou ter empobrecido nos anos anteriores. Uma análise cuidadosa em seu patrimônio, no entanto, revela uma vida mais suntuosa: eleito seis vezes para o Congresso Nacional, o deputado Roberto Jefferson (PTB) teve, ao longo de seus anos no poder, um alto padrão de vida.

Grande parte desta discrepância tem endereço na zona rural da pacata Paraíba do Sul, reduto eleitoral do deputado no centro-sul do Estado do Rio. A Fazenda da Reforma, segundo registro no cartório do município, foi comprada em 1984 por Jefferson e por sua então mulher, Ecila Brasil da Silva Francisco. Tem casarão colonial, outras quatro casas, dois galpões, moinho, capela, piscina, um trator e 138 cabeças de gado. Só não engordou seu patrimônio durante esse período porque em 1986 foi doada aos três filhos do casal com reserva de usufruto (podem usufruir, mas não vender). Recentemente, a propriedade foi vendida.

Em 1998, ao se candidatar pela quinta vez a deputado, Jefferson declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) um patrimônio robusto. Além da fazenda, informou ter dez linhas telefônicas, três carros, 130 cabeças de gado, três lojas comerciais, sete apartamentos em construção e uma casa no bairro de Valparaíso, em Petrópolis, onde tem grande influência política. O imóvel tem dois andares, quatro quartos, muros altos e circuito de TV. Foi declarado por R$83 mil e hoje, segundo corretores da cidade, vale pelo menos R$300 mil.

Quatro anos depois, o deputado informou um patrimônio menor. Desfez-se dos apartamentos e das lojas e tinha dois carros (dois Defenders Land Rover). Nos períodos das duas declarações, teve apenas duas fontes de renda: a Câmara dos Deputados e o seu escritório de advocacia (Daudt, Andrade e Castro Advogados).

O advogado criminalista Roberto Jefferson começou a carreira em 1981 trabalhando em ¿O Povo na TV¿, um programa popular da antiga TVS (hoje SBT), de Silvio Santos, exibido no Rio de Janeiro. Ainda era estagiário ¿ trabalhava em Petrópolis no escritório do advogado João Carlos Malé ¿ quando foi indicado para a atração de TV por jornalistas do município que conheciam o diretor do programa, Jorge Elias.

A projeção levou Jefferson a se eleger deputado federal em 1982 pela primeira vez. Uma façanha para quem nunca tinha sido vereador ou deputado estadual. Conseguiu a vaga no PTB por sua visibilidade e foi beneficiado pelo bom momento da candidatura de Sandra Cavalcanti, que disputava o governo do estado com Miro Teixeira e Leonel Brizola, que acabou vencendo.

No governo Sarney, Jefferson e o PTB indicaram aliados para cargos de confiança na Cobal, alvo na época de uma série de denúncias de irregularidades. Anos mais tarde, passou a ser conhecido em todo o país por defender o então presidente Fernando Collor (PRN), ameaçado de impeachment. Jefferson foi um collorido de primeira hora.

COLABORARAM: Chico Otavio e Rodrigo França Taves