Título: Ex-agente: existem mais documentos
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 20/10/2004, O país, p. 3
Responsável pela entrega de documentos reservados do regime militar e fotos do jornalista Vladimir Herzog à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o ex-agente do serviço de inteligência do Exército cabo José Alves Firmino disse ontem que uma grande quantidade de documentos produzidos pela repressão foi preservada e poderá ajudar a esclarecer mortes de militantes políticos durante o regime militar. Segundo ele, estes papéis estão num arquivo subterrâneo do Pavilhão 31 de Março, no Setor Militar Urbano, sede do comando Geral do Exército, em Brasília.
Cabo reformado do 42 Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército, em Goiás, Firmino fez espionagem política entre 1990 e 1995. Ele foi mandado para a reserva em 2000, três anos depois de denunciar à Comissão de Direitos Humanos supostos abusos do serviço de inteligência do Exército mais de uma década depois do início da redemocratização do país. Nas últimas eleições disputou uma das vagas da Câmara de Vereadores de Goiânia, mas não conseguiu se eleger.
¿ Fui reformado, mas tenho amigos lá dentro. Cabos, soldados, sargentos, revoltados com o sistema. Sempre tenho informações lá de dentro do sistema ¿ sustenta ele.
Segundo ele, os militares destruíram apenas os arquivos do Comando Militar do Planalto, encarregado de armazenar informações sobre a repressão em Brasília. As demais divisões do serviço de inteligência nos estados teriam mantido praticamente intacta boa parte dos documentos elaborados ao longo da ditadura. Entre esses documentos estariam fotos, slides e relatórios sobre prisões e mortes de militantes políticos. A cúpula militar tem reiterado que estes documentos não existem mais.
No período em que atuou como araponga, Firmino teria espionado vários políticos do PT, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-araponga acredita que o sistema de espionagem militar ainda funcione.
¿ Tem militares que até se fazem passar por mendigos na rodoviária para recolher jornais dos sindicatos, associações, para que se faça um informe e leve ao comando do Exército.