Título: `Mataram o Vlado¿
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 20/10/2004, O país, p. 3

Entre os muitos alvos das forças de repressão militar no meio dos anos 70 estava a TV Cultura de São Paulo, considerada aos olhos da linha dura ¿um antro de subversivos¿, pela quantidade de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Um deles era Vladimir Herzog, que em 1 de setembro de 1975 assumiu a direção de jornalismo da emissora. Aos 38 anos, Vlado, como era conhecido, não era um quadro ativo do partido, e sim um profissional ligado à área de cultura.

Os órgãos de imprensa transformaram-se em alvo obsessivo das forças de repressão. No fim de outubro, Herzog soube que seria um dos próximos presos. Procurado por agentes na redação, pediu para se apresentar no dia seguinte, 25 de outubro ¿ e foi, às 8h daquele sábado. Entre o meio da tarde e as 22h, foi assassinado, ou ¿se suicidou¿, como tentou-se justificar a morte, ocorrida no DOI-Codi do II Exército, em São Paulo.

¿ Mataram o Vlado ¿ disse Clarice, mulher do jornalista, ao ser informada da morte, a de maior repercussão desde o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, em 1971, no Rio.

A imagem de Herzog enforcado e de joelhos virou um dos emblemas do regime militar. Três meses depois, o operário Manoel Fiel Filho, 49 anos, também foi morto em circunstâncias semelhantes. A ciranda de violência virou crise política e levou o então general-presidente Ernesto Geisel a demitir o comandante do II Exército, general Ednardo D¿Ávila Mello.