Título: `São toneladas de documentos¿
Autor: Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 20/10/2004, O país, p. 3
Ex-araponga do serviço de inteligência do Exército, o cabo José Alves Firmino vive num bairro pobre de Goiânia. Ele diz que já foi muitas vezes ameaçado de morte. Firmino disse que não sabia, à época que teve acesso aos documentos reservados do Exército, quem era Vladimir Herzog.
Como o senhor conseguiu as fotos do jornalista Vladimir Herzog?
JOSÉ ALVES FIRMINO: Elas foram tiradas dos arquivos do extinto DOI-Codi de Brasília. As informações eram cruzadas por todos os DOI-Codis. Acredito que, por isso, essas fotos foram parar lá.
Quando o senhor conseguiu tirar essas fotos de lá?
FIRMINO: Foi em 1996. Tirei uma documentação que relatava minhas atividades de 1990 a 1995, todas atividades de inteligência e infiltração em partidos. Nesse intervalo, eles mandaram queimar os arquivos do DOI porque o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava disparado nas pesquisas. Com medo de ele ganhar e abrir os arquivos, mandaram incinerar.
O senhor disse que esses documentos foram enviados para a destruição. Foram destruídos?
FIRMINO: Os documentos do DOI-Codi de Brasília foram destruídos. Só se salvaram os que estavam comigo e foram entregues à Comissão de Direitos Humanos. Porém, existem documentos do regime militar que podem elucidar todas as mortes desde o Araguaia. Podem virar essa página obscura da História. Desde a época em que eles alegavam que esses documentos não existiam, eu estava na ativa e esses documentos estavam lá. São toneladas de documentos.
Quem foram os políticos que o senhor espionou nesse período?
FIRMINO: Lula, Agnelo Queiroz, o falecido deputado Sérgio Arouca, o senador Cristovam Buarque (PT), a deputada distrital Arlete Avelar Sampaio, a deputada federal Maninha e diplomatas coreanos que tinham relação com Agnelo.
Como espionou Lula?
FIRMINO: A subseção de Inteligência de São Paulo seguia Lula até o aeroporto. Quando ele embarcava, passava-se um rádio para Brasília. Nós recebíamos o Lula no aeroporto sem ele saber. Seguíamos de longe, víamos com quem ele entrava em contato, onde almoçava. O mesmo acontecia quando ele ia a outros estados.