Título: `DURANTE CULTIVO, CONCENTRAÇÃO DE NITRATO AUMENTA¿
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O País, p. 17

Especialistas avaliam efeito da agropecuária nos rios paraenses

BELÉM. A pesquisa sobre as bacias hidrográficas concentra-se nos efeitos da implantação das atividades agropecuárias e sua repercussão nos rios da região.

¿ Na época de cultivo há um significativo aumento da concentração de nitrato na água. É preocupante pelas conseqüências danosas ao meio ambiente, ao homem, que este nutriente pode causar. Concentrações acima de 45 miligramas de nitrato por litro de água podem causar doenças como câncer gástrico ¿ diz o coordenador da pesquisa, Ricardo de Oliveira Figueiredo, doutor em ciências ambientais e pesquisador da Embrapa na Amazônia Oriental.

Ribeirinhos se queixam da falta de peixes e camarões

Segundo ele, outra informação igualmente relevante refere-se ao pH da água. Quanto mais próximo do lugar em que há lavouras, mais alto ele é, ou seja, mais alto é o índice de acidez da água. Quanto mais próximo das áreas de floresta, mais baixo se apresenta. Alterações no pH ocasionam problemas para os microrganismos aquáticos, base da cadeia alimentar, e isso prejudica a sobrevivência dos peixes, alerta o pesquisador.

Essa alteração já começa a ser sentida pelos moradores ribeirinhos no Pará. Urbano Lima Lucas, de 23 anos, e Genival da Silva, de 29, tiram do rio o sustento da família. Ambos têm dois filhos e são pescadores há cinco anos. Mas já pensam em engrossar o cordão das comunidades ribeirinhas que saem de seus municípios para tentar a sorte na capital Belém.

¿ Antes eu saía cedinho e por volta de 8h, 9h, já tinha uns 40 litros de camarão. Agora, passo o dia inteiro e não consigo nem 15 litros, e todos pequeninos ¿ diz Lucas, mostrando na palma da mão a pouca quantidade conseguida em um dia inteiro de trabalho.

Segundo Genival da Silva, o problema começou há dois anos, quando ¿jogaram um veneno no rio¿.

¿ Morreu muito peixe. Dava pena, a gente pegava na mão os bichos mortos. De lá pra cá, o peixe acabou, não tem mais. Viver da pesca ficou mais difícil. Tem pelo menos um ano que a gente não pega quase nada.

Crianças apresentam coceiras e feridas na pele

A poluição dos rios também afeta a saúde dos moradores. As crianças são as mais atingidas. Kailane, de 1 ano, e Caio, de 3 anos, filhos de Kátia Suely, de 25, vivem com problemas na pele. São coceiras e feridas. Suely acredita que a origem seja a água do rio que passa no quintal de sua casa. Mesmo assim, não impede que Caio mergulhe nas águas barrentas do Rio Paracuri, que recebe diretamente parte do esgoto doméstico de um distrito de Belém.

¿ É do rio que lavo a roupa e cozinho a comida. Não dá para viver sem ele ¿ diz.