Título: AMAZÔNIA SOB AMEAÇA DO SURGIMENTO DE `TIETÊS¿
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O País, p. 17

Pesquisadores de instituições paraenses dizem que poluição já afeta seriamente rios, igarapés e nascentes

BELÉM. Uma série de novos ¿rios tietês¿ pode estar surgindo aos poucos em toda a Amazônia por causa da poluição causada pela ação da agricultura e pelo lançamento de resíduos domésticos sem qualquer tratamento nos rios,em igarapés e nas nascentes da região. Estudos realizados por um grupo de pesquisadores de diversas instituições paraenses alertam para os riscos que os rios começam a sofrer. As pesquisas mostram que igarapés no interior do Pará já apresentam significativas alterações ocasionadas por cultivos agrícolas.

Os problemas concentram-se em nascentes sem matas ciliares, represamentos para servir homens e animais, lavagem de utensílios domésticos, despejo de esgoto ou mesmo dos resíduos utilizados na aplicação de agrotóxicos.

Rios e igarapés já têm taxa zero de oxigênio

O manejo quase sempre danoso da terra está desenhando um cenário que, para os pesquisadores, ameaça diretamente o ciclo das águas na Amazônia.

O projeto Agrobacias Amazônicas, um estudo das bacias hidrográficas, já tem indicativos que comprovam, por exemplo, que há rios e igarapés em diversos municípios que apresentaram, nos últimos meses, taxa zero de oxigênio. O estudo mostra que há ainda os que estão com as nascentes sob ameaça com a retirada da mata ciliar que as protege. Uma prática que atinge as nascentes e os cursos d¿água em toda a sua extensão, deixando-os ainda mais desprotegidos.

A floresta é o parâmetro de avaliação, segundo os pesquisadores. As diferenças do que acontece com a água em dois ambientes ¿ o que o homem já alterou e o que ainda está preservado ¿ já se manifestam, com maior evidência, na absorção da água da chuva pelo solo. Em áreas de floresta a absorção é completa e as gotas da chuva penetram facilmente no solo. Já nas áreas intensivamente exploradas, principalmente pela pecuária, com a retirada da mata e o chão pisoteado pelo gado, o solo perde o poder de absorver e a água penetra na terra com muita dificuldade.