Título: EFEITO DOS JUROS ALTOS JÁ CHEGA AO MERCADO DE TRABALHO
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 05/06/2005, Economia, p. 38

Rotatividade no emprego cresceu 7% nos primeiros quatro meses do ano em relação a 2004, revela estudo

BRASÍLIA. O impacto da estagnação da economia, reflexo da alta dos juros, como revelou o IBGE na semana passada, já pode ser visto no mercado de trabalho, que registra alta rotatividade e perda de renda do trabalhador com carteira assinada. Um estudo com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, elaborado pelo economista Marcio Pochmann, professor da Unicamp, mostra que a rotatividade ¿ substituição de mão-de-obra ¿ no emprego formal cresceu 7,16% no primeiro quadrimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2004.

Caso seja mantido esse ritmo, o Brasil chegará ao fim do ano com uma taxa de 43,1%, a maior desde 2001. Isso significa que para cada cem empregados 43 seriam substituídos por outros com salários menores num período de 12 meses. No ano passado, o índice foi de 40,2%.

Abertura de vagas ainda não basta para ativar economia

Segundo o estudo, o salário médio dos demitidos entre janeiro e abril era de R$2.380, enquanto o dos admitidos era de R$392,7. Ou seja, o patrão demite um funcionário e com o salário dele, em tese, pode contratar seis. De cada dez trabalhadores contratados, nove tiveram remuneração de até três salários-mínimos, conforme o Caged.

¿ Os empregos criados não são suficientes para elevar o nível de renda, o consumo das famílias e ativar a economia ¿ avalia Pochmann.

Os dados revelam que a economia do país voltou à situação verificada no último trimestre de 2003, em que a evolução da atividade econômica foi influenciada pelas exportações e pelo setor agropecuário. Segundo o IBGE, o crescimento de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo país) no primeiro trimestre deste ano foi puxado por estes segmentos. No entanto, é o dinamismo do mercado interno que puxa uma melhora generalizada nas condições do mercado de trabalho.

Embora o estoque de empregos formais tenha crescido 4,37% neste ano, com saldo positivo de 558,3 mil postos até abril, Pochmann chama atenção para a folha de salários das empresas, que subiu apenas 0,2% devido à alta rotatividade ¿ recurso usado pelos empresários para reduzir custos. Só na indústria, o expediente da substituição cresceu 13,18%, quase o dobro da média do país.

Lúcia Helena Ferreira, 30 anos, é vítima dessa situação: foi demitida de um hospital particular de Brasília, sob o argumento de que a instituição precisava cortar custos, mas outra pessoa foi contratada para o lugar.

¿ Estou procurando emprego fixo há seis meses. Não sei como vou pagar meu aluguel ¿ disse ela.

Paula Montagner, do Observatório do Mercado de Trabalho, do ministério, admitiu que a alta rotatividade é um problema.

¿ O que o governo pode fazer é investir numa política de valorização do salário-mínimo ¿ destacou.