Título: REUNIÃO DA OEA COMEÇA COM LATINOS EM VANTAGEM
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 05/06/2005, O Mundo, p. 45

Washington não consegue emplacar criação de grupo especial para monitorar a democracia na região

WASHINGTON. O rascunho da declaração final da assembléia-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que será realizada de hoje a terça-feira em Fort Lauderdale, na Flórida, mostra que os países da América Latina estão conseguindo ¿ pelo menos por enquanto ¿ bloquear uma polêmica iniciativa dos Estados Unidos. Ela não está contemplada no documento.

O governo americano vem insistindo em propor a criação de um grupo especial da OEA para monitorar a qualidade da democracia na região. Dele participariam também representantes da sociedade civil ¿ sindicatos, entidades comunitárias, organizações não-governamentais em geral ¿ que se encarregariam de alertar sobre ameaças contra a democracia em seus países.

¿ Temos de ter um grupo mais ágil e sensível. Não se trata de um exercício acadêmico a ser realizado na Bolívia, na Nicarágua ou no Equador, e sim um mecanismo que administre situações em tempo real ¿ disse o secretário de Estado assistente para o Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, principal arquiteto do plano.

Por trás dele, na visão da maioria, estaria uma indisfarçável estratégia para isolar o governo de Hugo Chávez na Venezuela, inimigo declarado de Tio Sam. Países como Brasil, Argentina e Chile já manifestaram oposição a isso, ainda que informalmente:

¿ Uma idéia dessas não será aprovada de modo algum ¿ afirmou ao GLOBO o novo embaixador do Brasil na OEA, Osmar Chohfi.

O documento, que ainda está aberto a alterações, menciona ¿ como querem os EUA ¿ que os líderes eleitos de forma democrática devem, também, governar democraticamente. E acrescenta que ¿aqueles que não o fizerem deverão ser responsabilizados¿. Mas, em seguida, ressalta que embora a OEA tenha o papel de consolidar a democracia, ela também deve prestar ¿o devido respeito ao princípio de não-intervenção¿.

Segundo o rascunho, todos os países passariam a ¿se comprometer a trabalhar de forma combinada para melhorar e tornar realidade os benefícios da democracia aos cidadãos do hemisfério¿.

O próprio secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, que assumiu o posto nove dias atrás, já sinalizou sua discordância. Ele disse entender que a estabilidade da região pode ser uma das prioridades dos EUA, mas advertiu que isso deve ser obtido sob um outro enfoque:

¿ Isso supõe um grau de flexibilidade para entender situações políticas e culturais distintas, e aceitar a grande diversidade da região ¿ disse Insulza.