Título: ESPECIALISTAS CONDENAM VIOLÊNCIA
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Fonte: O Globo, 04/06/2005, Rio, p. 21
Reação favorável à ação policial deixa preocupados defensores dos direitos humanos
Preocupação com a reação e indignação com a agressão. Estes foram os sentimentos de especialistas em direitos humanos e representantes da sociedade civil após analisarem a reportagem publicada ontem no GLOBO e sua repercussão. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Geraldo Moreira, redigiu nota oficial que será encaminhada ao comando da PM, pedindo rigor na punição dos agressores para não estimular atitudes semelhantes.
¿ É constrangedor! Os policiais fizeram tudo certo: acionados, perseguiram os bandidos sem disparar um único tiro, prenderam todos e recuperaram o produto do roubo. Ai, depois de todos dominados, vem um idiota e mancha o serviço. Não sou a favor da delinqüência. Mas a questão aqui é a agressão aos direitos humanos ¿ disse Moreira, acrescentando que essa cultura, com o aval da sociedade, gera casos como o dos policiais que assassinaram 29 pessoas na chacina da Baixada Fluminense. ¿ Agindo daquela forma, o policial é um delinqüente.
Euristéia de Azevedo, uma das líderes das Mães do Rio, que lutam pela punição de policiais que cometeram crimes, disse que a atitude dos PMs foi uma demonstração de covardia:
¿ É uma conseqüência da certeza da impunidade. Meu caso é um exemplo disto: meu filho, William, e três amigos foram perseguidos e assassinados por policiais que faziam a segurança de um baile funk, no dia 10 de outubro de 1998. Até hoje, o caso continua em fase de inquérito ¿ disse ela.
A coordenadora do grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, também se disse chocada, tanto com a ação do policial quanto com a reação da sociedade:
¿ Nem um animal peçonhento merece este tratamento depois de dominado, por maior que seja a atrocidade que tenha cometido. A integridade física do bandido deveria ter sido mantida. Afinal, o estado era responsável por ele. Quando um agente do estado age desta forma, está se igualando ao bandido e, por isso, torna-se ainda pior. Já a reação das pessoas é uma prova de como a sociedade está se fascistizando: consideram natural que, por ser bandido, uma pessoa seja tratada como animal.
O sociólogo Geraldo Tadeu Monteiro, do Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais (IBPS), classificou a agressão como um ¿espetáculo deprimente¿. Segundo ele, atitudes como essa não trazem qualquer benefício para a sociedade:
¿ Algumas pessoas podem aprovar essa atitude porque há uma sensação cada vez maior de impotência da população diante da violência. Mas a agressão só serve para acirrar o ódio, provocar uma reação ainda mais violenta dos criminosos.
Para o presidente da seção Rio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), Octavio Gomes, a reação dos leitores é um retrato de uma sociedade acuada pelo crescimento da criminalidade. Ele ressaltou, no entanto, que aprovar a agressão é abrir um precedente inaceitável:
--- Não pode ser ¿olho por olho, dente por dente¿. Tolerar essa atitude é o primeiro degrau para aceitar uma chacina no futuro.
Apesar de o assalto que culminou com a prisão dos quatro homens ter sido em seu bairro, o presidente da Associação de Moradores do Leblon, João Fontes, condenou a atitude dos PMs, citando outro exemplo que recentemente esteve presente nas páginas de jornais do mundo todo.
--- Quando as pessoas vêem um preso sendo humilhado no Iraque, ficam indignadas. Quando uma agressão da polícia acontece aqui no Brasil, apóiam? ¿ perguntou.