Título: ABRINDO A TORNEIRA
Autor: Valderz Caetano
Fonte: O Globo, 04/06/2005, Economia, p. 23

PIB fraco e crise política levam Lula a exigir de ministros liberação de R$4,17 bilhões

Oresultado do Produto Interno Bruto (PIB, total de riquezas produzidas no país) no primeiro trimestre ¿ que revelou desaceleração da economia e freio nos investimentos ¿ e a crise política detonada pela CPI dos Correios sacudiram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que articulou estratégia para mostrar à sociedade que o governo não está parado. Ele exigiu dos seus ministros o desengavetamento de projetos até agora parados por falta de verbas. Só nos últimos dois dias, o governo decidiu liberar recursos que já chegam a R$4,17 bilhões para as áreas de saneamento, agricultura e estradas.

A primeira reação da área econômica foi para o saneamento básico. No início da tarde de quinta-feira, os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, e o presidente do Banco do Central (BC), Henrique Meirelles, fizeram por telefone uma reunião de emergência do Conselho Monetário Nacional (CMN) e ampliaram em R$250 milhões o limite de endividamento da Caixa Econômica Federal com recursos do FGTS para aplicar em saneamento.

Com isso, os recursos para o setor este ano chegarão a R$3,150 bilhões. A demanda era do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, que estava pressionando o governo.

¿ A atividade econômica será empurrada pelos investimentos do governo. Temos condições de reduzir o superávit (economia para pagar juros) para ajustá-lo à meta de 4,25%, pois hoje está próximo a 7%. Isto nos dá a garantia de que a economia crescerá este ano 4,5%. É com este percentual que trabalhamos ¿ disse Paulo Bernardo.

O ministro do Planejamento explicou que, na prática, o governo está liberando R$750 milhões. Isto porque, disse ele, na consulta ao CMN por telefone ficou acertado pelos ministros que os R$500 milhões que não foram aplicados em 2004 seriam revalidados para este ano. O ministro afirmou que nas conversas ficou decidido que outros R$750 milhões seriam liberados até o fim do ano, dependendo ao ritmo da demanda.

¿ Foi o presidente Lula que ordenou ¿ disse.

Lula pede pressa na licitação de rodovias

Também quinta-feira, o próprio Lula determinou o aumento de R$7 bilhões para R$9 bilhões dos recursos da agricultura familiar (Pronaf) para este ano. Foi uma forma de acalmar os ânimos de milhares de trabalhadores ligados à Confederação Nacional da Agricultura (Contag), que reivindicavam na Esplanada dos Ministérios mais recursos para os pequenos agricultores.

Outros R$370 milhões serão liberados até meados do mês para a conclusão de projetos de infra-estrutura, como as obras da Rodovia Fernão Dias, parte do trecho da Régis Bittencourt e da BR-050 (entre Uberlândia e Uberaba-MG) e a manutenção da BR-060, que liga o Distrito Federal a Goiânia. Lula pediu pressa ainda na licitação de novas concessões.

Ontem, após reunião com Palocci, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, anunciou que o governo destinará R$450 milhões para a compra dos agricultores gaúchos de arroz excedente, que causou forte queda de preços ¿ de R$30 para R$18 a saca. A entrada de arroz dos países do Mercosul, a preços abaixo do custo de produção doméstica, e o dólar barato motivaram a crise. Na terça-feira, já haviam sido liberados R$250 milhões, que beneficiavam ainda produtores de algodão.

¿ Chamamos o ministro Palocci para ele sentir a angústia dos plantadores de arroz do Rio Grande do Sul. Era necessária a liberação dos recursos ¿ disse Severino.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, quer a liberação de R$1 bilhão para compra de arroz.