Título: A FORÇA ESTÁ COM ELES
Autor: Mànya Millen
Fonte: O Globo, 04/06/2005, Prosa & Verso, p. 2

Livros para jovens vêm se tornando uma fatia cada vez mais importante do mercado

Os números apresentados no balanço da 12ª Bienal Internacional do Livro, que aconteceu entre os dias 12 e 22 de maio no Riocentro, não deixaram dúvidas: a força, definitivamente, está com eles, os jovens, que compareceram em peso ao evento e não apenas acompanhando as visitas escolares. Em bando ou solitariamente, os adolescentes mostraram ao mercado que são cada vez mais um promissor público consumidor, fazendo com que as vendas de títulos dedicados a eles saltassem aos olhos mesmo em estandes de editoras que não os têm (ainda) como público-alvo. O fenômeno da explosão da literatura juvenil tem várias razões, segundo especialistas, editores e autores. O aumento do número de crianças nas escolas, a preocupação das instituições educacionais em incentivar o hábito de leitura e uma longa tradição de boa literatura infantil nacional, que formou muitos leitores, se refletem hoje no vasto consumo de muitos tipos de obras, entre elas as representantes do filão cor-de-rosa (voltada para garotas) e do filão de ¿auto-ajuda¿ e comportamento ¿ na linha ¿coisas que você deve saber sobre tudo¿ ¿ ambos os mais consumidos na Bienal.

Nesse nicho cor-de-rosa estão o furacão americano Meg Cabot, com seu ¿A princesa de rosa-shocking¿ (Record), e as brasileiras Thalita Rebouças (¿Fala sério, mãe!¿, da Rocco) e Heloisa Perissé (¿O diário de Tati¿ e ¿Mãe, você não tá entendendo¿, da Objetiva), todas elas campeãs de vendas em suas respectivas editoras durante a Bienal. Para o escritor Luiz Antonio Aguiar, autor de numerosos livros para adolescentes, e também presidente da Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil, o fenômeno não é exatamente inédito, porém é um indicativo de algo ¿extremamente interessante¿.

¿ Pode estar se criando aí um público para uma literatura fora do mecanismo habitual dos livros paradidáticos ¿ comenta ele. ¿ Essa literatura que está surgindo não é feita para se educar ou corrigir o jovem, é feita sem esse intermediário moralista. Há muito a literatura brasileira está produzindo livros para garotos e garotas, mas sempre atendendo a questões como o problema das drogas, ou sobre sexo, que na verdade servem para agradar a pais, governo e educadores. Alguns são bem feitos, mas outros são tão ressecados que afastam o jovem do livro. Está faltando escritor que escreva para ser lido, e não para passar uma mensagem, dar uma lição.

Harry Potter, o marco no mercado

Embora muitos possam torcer o nariz para esse novo filão, não enxergando nele qualidade literária de clássicos juvenis que encantaram gerações mais antigas, como Mark Twain, editores e autores ressaltam que, quanto maior o volume de leitura, qualquer que seja ela, melhor para o futuro dos leitores.

¿ O importante é criar o impulso de leitura, o que só acontece com gosto, com prazer. Vai chegar uma hora em que o impulso mais intelectual vai surgir e naturalmente os jovens passarão a ler outras coisas, mas quem nunca leu nada vai ficar amedrontado diante de um clássico ¿ analisa Luciana Villas-Boas, diretora editorial da Record. ¿ Tem que haver intimidade com o livro, até para se fazer uma leitura crítica de seu conteúdo.

Todos também concordam num outro ponto: a visibilidade e a consolidação desse segmento tão problemático, no qual é cada vez mais difícil fazer a distinção entre crianças e adolescentes, ocorreram em 1999, com a publicação do primeiro título da série Harry Potter, pela Rocco, que provou que a garotada não apenas estava disposta a ler, como a ler livros com mais de 300 páginas. Calcula-se que a série criada pela escocesa J.K. Rowling, cujo sexto volume será lançado no exterior em julho, já vendeu 250 milhões de exemplares no mundo.

¿ Mais relevante que o número de vendas é a criação de um novo público leitor. Hoje a Rocco lança 60% mais títulos infanto-juvenis que na fase anterior a Harry Potter ¿ diz o editor Paulo Rocco. ¿ O sucesso dele fez editoras de todo o mundo voltarem os olhos para o público juvenil e encarar o desafio de lançar títulos para leitores tão exigentes.