Título: O desgaste da CPI
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 06/06/2005, O Globo, p. 2

O governo Lula ganhou a luta política contra a criação de uma CPI mista no Congresso para investigar o escândalo dos Correios. Nem mesmo a oposição acredita mais na sua instalação, apesar de ainda não terem ocorrido as votações na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e no plenário. Mas a guerra continua, tendo agora como campo de batalha a opinião pública.

Os líderes governistas, quando fecharam questão contra a CPI, estavam medindo as conseqüências do embate na sociedade. As pesquisas feitas pelo Instituto Sensus mostram que o escândalo dos Correios afetou mais o governo Lula do que o escândalo Waldomiro Diniz. Em março de 2004, 43,9% dos entrevistados acompanhavam ou tinham ouvido falar do caso Waldomiro. Agora 51,2% dos ouvidos têm informação do caso dos Correios.

¿ Numa situação destas não tem saída boa. A opção tem que ser pelo menor dano. O governo já sofreu o desgaste. Numa CPI a sangria seria maior ¿ diz o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

Hoje o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ocupa rede de televisão para falar das providências que estão sendo adotadas para investigar irregularidades nos Correios e o que já foi feito para combater a corrupção. E, na noite de quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu aos coordenadores da bancada do PT na Câmara coesão. A oposição continuará batendo na mesma tecla, a de que o governo não combate a corrupção com a energia necessária, e ficará à espera de um fato novo para voltar à carga.

A disputa política não é mais em torno da CPI, mas em torno do compromisso deste governo com a ética. De acordo com a pesquisa CNT/Sensus, o governo Lula tem um saldo favorável: para 31,4% a corrupção é menor agora do que no governo anterior, enquanto 26,7% dizem que é maior. A pesquisa Datafolha confirma esta percepção. Para 65% dos ouvidos existe corrupção no governo Lula, percentual abaixo do que mereceu o governo Fernando Henrique: 71% em 2001 e 69% em 2002.

O que está em jogo é a credibilidade do governo Lula. E, por isso, os governistas não vêem diferença entre a ação da oposição e a do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e dos 12 deputados petistas que defendem a CPI. A convicção no Palácio do Planalto é a de que estão todos trabalhando juntos com um único objetivo, o de enfraquecer o presidente Lula.