Título: Economia, social e crise na base põem em risco projeto de reeleição
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 06/06/2005, O País, p. 4
Especialistas dizem que presidente precisa superar crise rapidamente
BRASÍLIA. Os conflitos na base parlamentar, o baixo desempenho nas ações federais e o desaquecimento da economia são os maiores riscos ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo cientistas políticos e publicitários ouvidos pelo GLOBO. Embora Lula continue liderando as pesquisas de opinião sobre a sucessão de 2006, esses especialistas consideram que o presidente precisa reagir logo à má fase para salvar seu futuro político.
A trajetória de queda nos índices de aprovação do governo ¿ confirmada pelas pesquisas do Instituto Datafolha, divulgada no fim de semana, e do CNT/Sensus, divulgada na última terça-feira ¿ é considerada menos preocupante do que a inversão da avaliação das ações nas áreas econômica, social e política, hoje consideradas ineficientes para a maioria dos brasileiros. Até dezembro, o quadro era justamente o inverso.
Ações do governo são consideradas inadequadas
O diretor da MCI, cientista político Antônio Lavareda, diz que, pela primeira vez, as pesquisas mostram que a maioria considera inadequada a ação do governo nas suas três principais áreas de atuação:
¿ Esses são os índices que devem despertar maior preocupação ao governo. A se manter esse quadro, quando a campanha eleitoral começar dificilmente o presidente conseguirá manter os atuais índices de popularidade.
O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), não esconde sua preocupação, mas acha que ainda há tempo para se reverter esse quadro:
¿ A luz amarela acendeu. Mas o governo tem todas as condições para reverter isso. Basta garantir a coesão política de sua base e algumas medidas na área econômica.
Para Lavareda, a ação do Planalto para tentar barrar a CPI dos Correios ainda não atingiu a imagem de Lula. Ele admite que o governo poderá até amargar um desgaste imediato com a operação, mas o dano será pequeno em comparação ao que o Executivo poderá sofrer caso a investigação seja aberta. Mas, segundo ele, o maior problema do presidente é a percepção dos eleitores de que ele não controla sua base congressual.
¿ A estratégia do governo está correta. Ele está trocando o pequeno dano certo, que terá com a operação para barrar a CPI, por um outro incerto e possivelmente maior. O mais importante, contudo, seria disciplinar sua base. Essa trindade (baixo desempenho da gestão governamental, falta de controle na política e eventuais insucessos na área econômica) pode ser absolutamente danosa e comprometer a reeleição de Lula ¿ disse.
Para o publicitário Augusto Fonseca, da MP5 Estratégia e Criação, que coordenou com Duda Mendonça a campanha à reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, o governo Lula está perdendo a batalha da comunicação.
¿ O mais grave é que o governo não consegue impor uma agenda positiva nem comunicar o que está fazendo. A reeleição normalmente funciona como um plebiscito. Ao analisar o candidato, o eleitor avalia se ele merece ou não a segunda chance ¿ explicou.
Embora preveja uma disputa acirrada em 2006, Fonseca ainda aposta na reeleição:
¿ Apesar do acúmulo de problemas, continuo achando que Lula é o grande favorito. Mas é ilusório achar que seus adversários continuarão nesses baixos patamares. Acredito que o presidente vença num segundo turno, mas apertado.
¿A imagem de Lula está fraturada¿, diz Agripino
A oposição planeja explorar a ação para impedir a CPI.
¿ A imagem pessoal do presidente Lula está fraturada diante dos casos de corrupção reincidentes no governo e isso terá reflexos na reeleição ¿ prevê o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN).