Título: EXPANSÃO DE LIXÃO EM BELÉM PREOCUPA
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 06/06/2005, O País, p. 4

Atividade de catadores ameaça poluir reservatório de água da capital

BELÉM. Há dez anos, todos os dias, Maria Marta, de 45 anos, e a filha Rosely Silva, de 25, saem de casa antes de o sol nascer e se dirigem ao aterro sanitário do Aurá, nome dado ao maior lixão a céu aberto da Região Metropolitana de Belém. Lá, junto com outras 600 pessoas, tentam reunir a maior quantidade possível de material reciclável entre as cerca de 1.200 toneladas diárias de lixo depositadas no local. Com sorte, nos dias bons, conseguem faturar R$15. Marta e Rosely fazem parte do quase invisível exército de carapirás (catadores de lixo) que fazem do lixão a principal fonte de sobrevivência de famílias inteiras nos municípios de Belém e Ananindeua.

Crianças brincam no lixo enquanto pais trabalham

Todo o lixo doméstico, comercial e parte do hospitalar que Belém produz é levado para o complexo do Aurá, a 19 quilômetros do centro de Belém. A atividade preocupa a prefeitura. Em torno do trabalho dos carapirás há uma marginalidade crescente. Além disso, crianças brincam no local, enquanto os pais catam lixo.

A expansão do lixão também ameaça o principal reservatório de água potável que abastece Belém, o Lago Bolonha. O líquido resultante de tanto lixo, chamado chorume, alcança um pequeno rio que circunda o aterro sanitário e pode chegar às nascentes do lago.

O lixão é uma dor de cabeça para o secretário de Saneamento de Belém, Luiz Otávio Ribeiro.

¿ Temos um aterro convencional que em três anos não suportará mais a quantidade de lixo produzida em Belém. Precisamos achar um mecanismo que crie alternativas de trabalho para esses catadores e diminua a marginalidade no local. Vamos comprar uma área de 13 hectares para destinar o lixo da cidade ¿ diz.

Para quem se acostumou com a vida no lixo, qualquer mudança gera medo. Maria Imaculada Macedo, de 53 anos, trabalha há 15 anos no lixão do Aurá e assistiu, ali, ao nascimento de uma favela.

¿ O povo foi chegando, foi ficando e hoje mora aí ¿ diz.

Agora, os carapirás querem se organizar em cooperativa e impedir a presença de crianças no local.

¿ Aqui a gente se confunde com os urubus. Não temos dignidade, aqui tudo é que nem bicho ¿ resume Maria Raimunda de Souza, de 52 anos, enquanto corre para conseguir um bom lugar próximo ao caminhão que chegou com uma nova remessa de lixo.