Título: Grupo da Polícia Federal faz uma operação por mês contra doleiros
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 06/06/2005, Economia, p. 16

De março a maio, foram apreendidos mais de R$2 milhões e US$38 mil

A Polícia Federal (PF) está cada vez mais de olho na ação dos doleiros, considerados o caminho inevitável de todos os grandes crimes de colarinho branco. O combate às fraudes financeiras tem um grupo especial na PF do Rio. É a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin), que conta com 25 agentes, oito deles delegados, lotados na unidade. Como resultado desse trabalho, a PF afirma que, entre março e maio, conseguiu apreender R$2,127 milhões e US$38,5 mil em três operações.

¿ A repressão precisa ser constante, porque todos os criminosos acabam batendo na porta de um doleiro ¿ garante o chefe da Delefin no Rio, Antônio Elias Ordacgy.

Este ano, a média de operações contra casas de câmbio tem sido de uma por mês, diz Ordacgy. Segundo ele, não existe um esquema de corrupção ou escândalo financeiro sem a participação de um doleiro. Ordacgy explica que, se há desvio de recursos públicos, precisa existir também um sistema clandestino para transferir o dinheiro sujo.

¿ E isso é uma atribuição exclusiva dos doleiros¿ acrescenta o delegado substituto, Jairo Souza da Silva.

Em razão disso, a PF acompanha os passos de donos de agências de câmbio e turismo, autorizadas ou não pelo Banco Central, em busca da contabilidade paralela que dá munição a uma série de crimes. Mas a polícia evita dizer quantos doleiros estão sendo monitorados pelo grupo.

Polícia Federal tenta descapitalizar os doleiros

Segundo a PF, em março, a ¿Operação Bonustur¿ resultou em duas prisões em flagrante, apreensão de aproximadamente R$5,5 mil e de US$13 mil, além da interdição de uma casa de câmbio que funcionaria clandestinamente.

Em abril, foi realizada a ¿Operação Donald Sutton¿. A PF apreendeu R$122 mil, US$25,5 mil e 60 euros. No caso do suposto esquema do doleiro americano naturalizado brasileiro Donald Anthonhy Henning Sutton, a PF afirma que conseguiu reunir provas suficientes de remessa ilegal de divisas.

Em maio, foram apreendidos R$2 milhões na ¿Operação Dólar legal¿ contra duas casas de câmbio. Os alvos ¿ a Samba Ipanema Exchange e a Best American Tur, em Ipanema e Copacabana, respectivamente ¿ já figuram em processos na Justiça Federal do Rio, acusadas de evasão de divisas.

¿ Além de buscar provas contra os doleiros, estamos empenhados em descapitalizá-los, empurrando-os para fora do mercado. Com a ação da PF, paralisamos o sistema, contaminando a relação de absoluta confiança exigida neste mercado ¿ explica Silva.

Segundo ele, para quebrar as pernas financeiras do crime organizado e cessar sua atividade, é preciso, antes, combater a ação dos doleiros.

Até criptografia para esconder provas

Não é tarefa fácil, contudo. Armados do que há de mais moderno em tecnologia, os doleiros estão cada vez mais escorregadios, dificultando o trabalho da PF.

¿ É extremamente difícil combatê-los. Em alguns locais, eles não mantêm mais arquivos nos computadores e sequer de papel. Os arquivos são remotos e os computadores, meros terminais ¿ informa o delegado.

No arsenal tecnológico, fala-se até de um sistema criptografado que permite deletar arquivos para eliminar provas na chegada da polícia.

¿ Mesmo assim, temos êxitos vez por outra ¿ diz Silva.

A nova dinâmica da PF, fruto de uma reestruturação comandada diretamente por Brasília, resultou na criação de quatro unidades especializadas no combate ao crime organizado. Os agentes e delegados se dividem para combater crimes financeiros, repressão ao tráfico de entorpecentes, contrabando de armas e roubo de cargas.

¿ Houve canalização de recursos humanos e escolha de prioridades, racionalizando o trabalho dos agentes ¿ concorda Silva.