Título: COM FREIO NO PIB, ESPECIALISTAS PEDEM MUDANÇAS NAS METAS DE INFLAÇÃO
Autor: Martha Beck e Enio Vieira
Fonte: O Globo, 06/06/2005, Economia, p. 17

Acadêmicos e economistas questionam eficácia da política de juros altos

BRASÍLIA. O crescimento de apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deu munição aos críticos da política monetária, que culpam os juros altos do Banco Central (BC) pelo desaquecimento da economia. Acadêmicos e economistas vêm questionando cada vez mais sua eficácia.

A discussão promete ganhar força este mês, quando Conselho Monetário Nacional (CMN) decide se confirma a meta de 4,5% para a inflação em 2006 e estabelece a de 2007. Para Sergio Werlang, diretor do Itaú, o governo deveria confirmar a meta de 2006 e manter a margem de tolerância em 2,5 pontos percentuais em vez de reduzí-la para dois pontos.

Segundo ele, isso reduziria a necessidade de manter os juros excessivamente altos. Werlang sugere que o governo retire do cálculo as tarifas públicas. Esta também é a idéia do diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio de Almeida. Ele lembra que as tarifas são corrigidas pelo IGP, que tem composição diferente da usada no IPCA, que orienta as metas.

A retirada das tarifas consta ainda de um estudo da consultoria GRC Visão, em que o economista Alex Agostini comparou os períodos anterior e posterior à implantação das metas, em 1999. Segundo ele, o regime teve pouco efeito: o crescimento do PIB caiu de uma média anual de 2,6% para 2,4%; o rendimento médio real das pessoas aumentou 4,9% antes da implantação das metas e caiu 3,9% a partir de 1999; e o IPCA anualizado passou de uma média de 10,95% para 8,6%.

Já o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo, Heron do Carmo, diz que o CMN deve manter a meta de inflação em 4,5% tanto em 2006 quanto em 2007. Para ele, o pior já passou:

¿ As commodities e o petróleo, que estavam pressionando, já deram um alívio.

Para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), a prova de que o governo precisa ampliar a meta é justamente o fato de o governo já não trabalhar este ano com o valor central de 4,5%, mas com 5,1%. Para ele, a meta de 2006 deveria subir para 5,1%.