Título: CONDOLEEZZA ELOGIA GOVERNO LULA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 06/06/2005, O Mundo, p. 19

Secretária aponta Brasil como exemplo de esquerda responsável no poder

FORT LAUDERDALE, Flórida. Ao garantir que os Estados Unidos não estão preocupados com a ascensão da esquerda ao poder na América Latina, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, mencionou o Brasil como um caso exemplar de como um governo dessa tendência pode ser confiável aos olhos de Tio Sam. ¿Se você olha para o que os brasileiros, por exemplo, têm feito... Eles têm estado absolutamente comprometidos com uma agenda social que está tentando lidar com as circunstâncias muito difíceis da pobreza no Brasil; vêm tentando lidar com o fato de que o Brasil é uma grande e multiétnica sociedade na qual nem todas as partes têm realmente participado. Mas vêm fazendo isso de uma forma economicamente responsável, e também responsável em termos de política. É com países como esse que nós podemos ter causas em comum¿, explicou a secretária de Estado.

A declaração foi feita em entrevista exclusiva ao ¿Miami Herald¿ às vésperas da assembléia da Organização dos Estados Americanos e publicada ontem. No entanto, como esse e outros trechos referentes à esquerda e ao populismo acabaram ficando fora da edição, o Departamento de Estado decidiu divulgar a transcrição do diálogo entre ela e o repórter Pablo Bachelet.

Quando o jornalista lhe perguntou se havia preocupação sobre a ascensão do populismo ela interpretou isso como uma referência à esquerda. E foi taxativa em sua resposta: ¿Bom, eu com toda a certeza não estou preocupada com a ascensão de governos de esquerda. Quero ser muito clara sobre isso, porque temos muito boas relações com o Brasil e com o presidente Lula, temos excelentes relações com o Chile, temos tido boas relações num certo número de assuntos com a Argentina. Então, eu certamente não estou preocupada com a ascensão de governos de esquerda¿, explicou.

Condoleezza acrescentou, no entanto, que o populismo, sim, causa-lhe preocupações. Disse que às vezes há tendências na América Latina ¿a uma espécie de força política que está tentando usar a tribuna de forma ameaçadora, digamos assim, de maneiras irresponsáveis e não para dizer ao povo que haverá escolhas difíceis a fazer; para encontrar formas externas para culpar pelas condições difíceis ou para prometer respostas fáceis, ou então para dizer que não tem que manter os fundamentos de um bom desempenho econômico, que não é preciso se preocupar com mercados abertos, que não se deve preocupar com comércio livre, que não é preciso ser fiscalmente responsável. Isso é ruim e às vezes acontece na América Latina¿, disse a secretária de Estado. (J.M.P.)