Título: Países combatem o `cell lixo¿. Afinal, prevenir é bem melhor
Autor: Elis Monteiro
Fonte: O Globo, 06/06/2005, Informática ETC, p. 1

No ano que vem, Comunidade Européia proibirá uso do chumbo nos celulares; no Brasil, há legislação apenas para descarte de baterias

Só nos Estados Unidos existem, atualmente, segundo a Environmental Protection Agency (EPA), agência americana de proteção ambiental, mais de 500 milhões de celulares quebrados/obsoletos ou não usados. Enquanto isso, só em território americano, a cada ano, mais de 130 milhões de aparelhos chegam ao fim de sua vida útil. Isso equivale a nada menos que 65 mil toneladas de lixo. Desse total de equipamentos descartados, apenas 2% são reciclados e/ou recondicionados. Neste caso, na maioria das vezes eles são enviados para reutilização em (adivinha!) países de terceiro mundo ¿ em sua maioria, países da América Latina e Ásia. Nem é tão original assim, né? Isso já aconteceu muito no mercado de PCs.

Brasil ainda tem mais de 300 mil celulares analógicos

Perto disso, os três mil toneladas gerados no Brasil parecem pouco, mas os ambientalistas já se mostram preocupados com a rápida expansão da telefonia no mundo. Só de aparelhos analógicos, que ainda usam o tipo mais nocivo de bateria, são mais de 300 mil ainda em uso no Brasil. Em breve, eles poderão ter como destino os lixões ou, como muitos têm feito, as gavetas de casa. Que são, ainda segundo dados da EPA, assim como as mesas de trabalho, os depositários intermediários dos aparelhos antes que os donos decidam jogá-los no lixo pura e simples.

¿ As leis brasileiras são bastante rígidas em relação ao impacto causado por equipamentos eletroeletrônicos no meio ambiente. O que não temos é um programa de descarte dos telefones completos, apenas de baterias. Mas isso ainda não faz sentido, porque o mercado é ainda muito novo ¿ diz Sílvio Stagni, da Sony-Ericsson.

Stagni lembra também que um dos motivos da morte do mercado de pagers foi a criação de programas de recondicionamento.

¿ No mercado de celulares não corremos este risco, primeiro porque as operadoras têm vendido aparelhos cada vez mais baratos. Segundo, porque o brasileiro gosta de ter um aparelho novo. O celular é uma expressão da personalidade das pessoas e elas querem ter sempre um que combine com elas ¿ diz Stagni.

Ou seja: o Brasil é (que bom!) rígido no que concerne ao descarte de baterias. Mas toda a rigidez não é suficiente para impedir os desavisados que decidem dar fim aos aparelhos por conta própria e acham que o local mais apropriado é a lixeira mais próxima. Tsc...

¿ Nos EUA, algumas empresas, como a Recelular, por exemplo, fazem reciclagem de aparelhos. Os telefones são revisados e trazidos de volta às suas características originais e vendidos no mercado de usados ¿ diz Aderbal Pereira, da Mobile Manufacturers Forum (MMF), associação com sede em Bruxelas que representa a maioria das fabricantes de aparelhos celulares.

Celulares contêm muitos tipos de substâncias tóxicas

A MMF não desenvolve projetos de coleta e reciclagem de aparelhos, mas há, até no Brasil, muitas formas de se livrar dos aparelhos indesejados.

Assim como outros equipamentos eletrônicos, os celulares contêm substâncias tóxicas como arsênico, chumbo, antimônio, cádmio, níquel, zinco, retardantes de combustão, além da solda usada nos circuitos internos, que podem ser nocivos ao planeta.

¿ Na verdade, nossa preocupação como fabricante não começa no fim da vida útil do aparelho, e sim lá no início. Já na produção tomamos cuidado com os produtos usados, de modo que eles possam ser reciclados depois ¿ diz Manoel Lins Júnior, gerente de qualidade e de pós-venda da Nokia.

Há muitos anos, a Nokia decidiu eliminar o máximo possível de substâncias tóxicas já na fabricação dos aparelhos. No ano passado, em parceria anunciada com o Greenpeace, a Samsung também anunciou a diminuição no uso de compostos tóxicos, persistentes (cujas moléculas se degradam lentamente no ambiente e no corpo humano) na fabricação de monitores e celulares. Desde 2002, todas as fábricas da Nokia são certificadas com o ISO 14001, norma de proteção ambiental.

Foi pensando na fabricação de equipamentos menos poluentes que evoluiu o mercado de baterias. Se antes todas eram poluentes, agora apenas as de níquel-cádmio são consideradas nocivas (leia mais sobre bateria no box).

Fabricantes têm projetos de reciclagem de aparelhos

Aí, os fabricantes entram em ação. E é para isso que a maioria criou programas de descarte de aparelhos. Ninguém lê, mas na maior parte dos manuais de instruções dos aparelhos há dicas de descarte consciente. Os fabricantes também recebem os telefones, recolhem e enviam para reciclagem. No Brasil, a mais conhecida indústria de reciclagem é a Indústria Química Suzano, que fica na Grande São Paulo. A maioria dos fabricantes, no entanto, envia o material coletado para reciclagem em outros países.

A Motorola, por exemplo, criou um programa de reciclagem de baterias que, até agora, já enviou para a empresa francesa SNAM (Societé Nouvelle D'Affinage Des Métaux) 130 toneladas de baterias para serem submetidas ao processo de reciclagem.

Assim como a Motorola, a Sony-Ericsson realiza a coleta dos celulares em seus Centros de Serviços Autorizados, mais de 150 pontos de coleta espalhados pelo país. Depois de recolherem o material, ele é encaminhado para reprocessamento.

O celular será então desmontado, os elementos químicos serão descartados seguindo regras internacionais de proteção ao meio ambiente e o material plástico, reciclado e transformado em novos produtos. Na reciclagem, a parte química do aparelho pode ser transformada em pigmentos, pneus, azulejo e muitos outros materiais úteis.

De acordo com Manoel Lins, pensando no meio ambiente a Nokia procura oferecer dicas ao consumidor de como maximizar a vida útil do aparelho. Quando esta, enfim, chega ao fim, a companhia finlandesa criou um ecossistema de comunicação e suporte para orientar os consumidores quanto aos procedimentos adequados no descarte dos aparelhos.

¿ No nosso call center, basta que ele digite o seu CEP que o sistema imediatamente indicará as opções de assistência técnica/pontos de descarte mais próximos ¿ diz Manoel. ¿ Lá, existe uma urna na qual ele vai depositar o aparelho. As urnas são recolhidas e enviadas para fora do país.

Os aparelhos serão, então, reciclados em outros países, principalmente na Finlândia.

No ano que vem, Europa dará adeus ao chumbo

Enquanto isso, a Europa já toma medidas legais para impedir o progresso do lixo gerado pelos celulares. Em julho de 2006, entrará enfim em vigor uma lei que proíbe a venda de qualquer aparelho celular que contenha chumbo e outras substâncias tóxicas em todos os países pertencentes à Comunidade Européia. Segundo dados do grupo European Environmental Bureau, que congrega ONGs de proteção ao meio ambiente, até 1º de janeiro de 2006, cada cidadão europeu deve gerar cerca de seis quilos de lixo tecnológico por ano, com aumento anual de 4%.

Também em 2006, o estado da Califórnia passará a exigir que todos os fabricantes em atuação no estado tenham programas de reciclagem de aparelhos. (EM)