Título: Inspetores da AIEA não têm acesso a centrífugas
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 20/10/2004, O país, p. 13

Três inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) examinaram ontem as instalações das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, e não tiveram acesso às centrífugas de enriquecimento de urânio, como já estava previsto. Os técnicos puderam ver apenas conexões, válvulas e tubulações da planta. Agora farão um relatório para que a Agência decida se concorda em inspecionar a INB sem acesso irrestrito, como pretendia inicialmente.

A equipe da AIEA ¿ chefiada por um americano e composta por uma sul-africana e de um francês ¿ não deu informações após a visita. Mas fontes do Ministério da Ciência e Tecnologia informaram que os inspetores consideraram a visita satisfatória e deixaram claro que o próximo passo será o envio de uma equipe de inspeção.

Segundo o governo brasileiro, isso significa que a AIEA teria concordado que é possível inspecionar a planta de enriquecimento de urânio sem acesso irrestrito às centrífugas. Mas a informação não foi confirmada pela agência, que já contestou informações de autoridades brasileiras anteriormente.

Técnicos da Cnen e da Abacc acompanharam visita

Os técnicos da AIEA estavam acompanhados por três técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e três da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc). As centrífugas são protegidas pelo governo brasileiros sob alegação de conterem segredo industrial, e estão isoladas por portas de metal. Hoje, no Rio, os técnicos da AIEA se reúnem para discutir os resultados da visita.

Funcionários da INB aproveitaram a visita dos inspetores para protestar por melhores salários. Eles puseram cinco faixas na entrada da fábrica com os dizeres: ¿Se a alta tecnologia que temos desperta tanto interesse internacional, devemos ter salários compatíveis¿.

O embaixador do Brasil em Londres e ex-diretor da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq), José Maurício Bustani, disse que o governo brasileiro nada tem a esconder. Para ele, "há uma campanha de desinformação para constranger o governo". Bustani disse que há interesses que parecem incomodados com o desenvolvimento do Brasil na área nuclear.

¿ É preciso esclarecer que essas acusações não são declarações oficiais. Mesmo assim, deixam no ar a idéia de que o Brasil está fazendo algo errado. Creio que importantes interesses parecem incomodados com o fato de o Brasil, ao enriquecer urânio em escala comercial, estar se tornando um país cada vez mais desenvolvido na área nuclear ¿ disse Bustani.

Energia nuclear apenas com fins pacíficos

O embaixador também observou que o Brasil usa a energia nuclear com fins pacíficos.

¿ O governo brasileiro não tem nada a esconder. Todas as iniciativas estão sujeitas a controles com base na norma constitucional, que proíbe atividades nucleares para fins militares. Nossas aspirações nucleares são legítimas e pacificas.