Título: Uma bomba dentro da PF
Autor: Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 20/10/2004, Rio, p. 14

A explosão de uma bomba ontem à tarde no terceiro andar do prédio da Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá, pode levar a PF a investigar um grupo de policiais envolvido em disputas internas de poder. Nos últimos meses, houve uma série de trocas de chefias na superintendência, que teria gerado insatisfação entre funcionários. Por volta das 16h, um artefato ¿ uma bomba de fabricação artesanal, feita provavelmente à base de papel, papelão, pólvora, bilhas e bolas de gude ¿ explodiu na sala do Núcleo de Operações da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst), onde trabalhavam três agentes. O local é de acesso restrito, onde apenas policiais federais são autorizados a entrar.

Os três agentes sofreram pequenos ferimentos no ouvido ¿ problemas auditivos provocados pela explosão ¿ e chegaram a ser atendidos no departamento médico da PF, sendo liberados. Por determinação do delegado regional executivo, Roberto Prel, foi instaurado inquérito policial para identificar quem colocou o artefato no local.

Bomba foi posta em cone de sinalização

A bomba foi posta dentro de um cone de sinalização de trânsito, que estava próximo a um armário de aço. A explosão ocorreu depois que um policial chutou o cone. Com o deslocamento de ar, os vidros de duas janelas foram quebrados e um armário de aço foi parcialmente danificado, não se sabe se por estilhaços ou deslocamento de ar. Também foram danificadas mesas e cadeiras que estavam na sala.

¿ Eu estava no meu gabinete, ao lado da sala, quando ouvi o barulho. Corri para o corredor e vi muita fumaça. Só fiquei tranquilo quando vi que os três agentes estavam bem ¿ disse um delegado da Delinst.

A explosão ocorreu por volta da 16h, liberando grande quantidade de fumaça. O Corpo de Bombeiros foi acionado, assim como a Polícia Militar. O apoio foi dispensado uma hora depois. Policiais federais de plantão correram e cercaram um trecho do prédio da PF, na esquina da Avenida Venezuela com a Rua Edgard Gordilho, onde fica estacionada a maioria dos carros dos policiais federais. Um grupo de peritos federais imediatamente isolou a sala onde ocorreu a explosão e iniciou a coleta de vestígios da bomba. Foram encontradas bolas de gude e bilhas espalhadas no chão, além de papel, papelão e material plástico.

O trabalho dos peritos será determinante. Eles precisam identificar qual tipo de explosivo foi usado e seu mecanismo de detonação. Para os policiais federais ouvidos pelo GLOBO, a hipótese mais provável é que algum policial tenha posto a bomba na sala. A hipótese de a bomba ter sido lançada da rua para dentro da sala foi descartada. O delegado federal Roberto Maia, chefe da Delinst, disse que momentos antes da explosão realizou uma reunião rápida com os agentes:

¿ Eu tinha, juntamente com outro delegado, saído da sala momentos antes da explosão. Somente a perícia vai determinar o que ocorreu e que tipo de explosivo foi usado.

A Delinst é o novo nome da antiga Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) da Polícia Federal. Sua função principal é investigar crimes políticos (principalmente cuidar de investigações ligadas as eleições), investigar crimes contra a pessoa (exploração da prostituição, por exemplo) e fazer fiscalização de assuntos ligados a armas e explosivos. É a Delinst a responsável ¿ através do Sistema de Nacional de Armas (Sinarm) ¿ pelo recolhimento de armas na campanha nacional pelo desarmamento.

¿ Minha sala é essa, mas por sorte eu estava fazendo um curso. Minha mesa é bem em frente onde ocorreu a explosão ¿ disse o escrivão Cleber Palma.

O delegado regional Roberto Prel qualificou a explosão de um fato grave que será apurado com o máximo de rigor:

¿ Tem muita gente que circula no prédio da Polícia Federal ¿ disse.