Título: CRISE COMEÇOU DE MADRUGADA
Autor: Cristiane Jungblut, Adriana Vasconcelos, Gerson C.
Fonte: O Globo, 07/06/2005, O País, p. 3
Coordenadores chegaram a sugerir ao presidente que mentisse
BRASÍLIA. O governo tomou conhecimento das declarações do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), durante a madrugada. Eram cerca de duas horas da manhã quando o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, enviou cópias da entrevista para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para os ministros da coordenação ¿ Antonio Palocci, Aldo Rebelo, Jaques Wagner e José Dirceu. Desde cedo, havia tensão no Palácio do Planalto e foram feitas várias consultas sobre qual deveria ser a reação do governo, até prevalecer a de que deveria se dizer a verdade.
¿ O mais grave seria expor o presidente da República a falar uma mentira ¿ disse o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.
Nas primeiras horas da manhã, enquanto, em São Paulo, o presidente Lula tomava conhecimento do completo teor da entrevista, no Planalto os ministros Aldo Rebelo e Luiz Gushiken conversaram. O coordenador político do governo consultou os ministros políticos: José Dirceu, que está na Espanha, Eunício Oliveira, Eduardo Campos e Walfrido Mares Guia ¿ este último foi acionado no domingo por Aldo Rebelo, quando Aldo tomou conhecimento da entrevista.
Estratégia do governo foi decidida ontem de manhã
Mais ou menos às 10h de ontem a estratégia do governo estava decidida. O presidente Lula informou aos ministros, em Brasília, que confirmaria que o presidente do PTB havia comentado numa reunião em março a existência de boatos sobre o mensalão.
O presidente comunicou sua decisão ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e ao líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), durante o vôo de São Paulo para Brasília. Na chegada, imediatamente ele se reuniu com a coordenação do governo no Palácio do Planalto. Embora alguns dos participantes considerassem que o mais simples seria negar o fato, Lula e a maioria dos presentes preferiu relatar os fatos.
Governo considera relações com Jefferson rompidas
Depois deste episódio o governo considera que estão rompidas as relações com Roberto Jefferson. Embora calmo durante a reunião, Lula demonstrou indignação:
¿ O que o Roberto Jefferson está querendo é jogar merda no ventilador para tentar se salvar ¿ afirmou Lula, segundo um dos presentes.
Reunidos, os articuladores políticos do governo chegaram à conclusão que a instalação de uma CPI é inevitável. A dúvida é quanto a qual delas: a dos Correios ou a da Mesada. Para o governo o mais conveniente é a criação de uma CPI para investigar as declarações feitas por Roberto Jefferson. Mas foi decidido que o Executivo não tomaria a decisão de apresentar esta proposta pois poderia parecer que o governo abandonou sua base, o PP e o PL acusados de receberem mesada do PT, para se proteger. A expectativa era de que os próprios líderes dos partidos aliados, que se reuniram ontem à noite com o líder do governo Arlindo Chinaglia (PT-SP), decidissem qual a CPI que apoiariam.
¿ Depois desta, ficou muito difícil não ter uma CPI. O que precisa ser decidido pela base é qual a CPI que vamos apoiar ¿ disse um ministro, que foi informado da reunião da coordenação de governo.