Título: DE ESTUDANTE POBRE AO HOMEM DO DINHEIRO
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 07/06/2005, O País, p. 14

Delúbio escalou a burocracia petista

SÃO PAULO. Em 1972, quando o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, chegou a Goiânia para estudar no colégio Liceu, faltava dinheiro até para a comida. A saída encontrada pelo garoto de 15 anos, filho de lavradores semi-analfabetos da minúscula Buriti Alegre (GO), foi falsificar uma carteira da Universidade Federal de Goiás, que dava direito a comer de graça no bandejão universitário.

Os tempos mudaram e hoje Delúbio comanda um orçamento milionário do PT, negocia em nome do governo federal com parlamentares, empresários e governadores, é chamado de doutor e indica parentes para cargos públicos. A cachaça barata dos botequins da capital goiana foi trocada pelo uísque escocês, acompanhado dos famosos e caros charutos Cohiba. Delúbio mora num apartamento alugado no bairro dos Jardins, área nobre de São Paulo.

A história de sucesso pessoal de Delúbio começou no fim da década de 70. Professor de desenho geométrico do Liceu, formado em Matemática pela UFMG, ele participou das primeiras greves de professores do estado. Em 1982 já havia ajudado a fundar a CUT-GO, da qual chegou a ser presidente, e a criar o PT no estado. Desde então, escalou a burocracia partidária.

Mas só ficou conhecido em 2002, quando comandou a captação de recursos para a vitoriosa campanha de Lula à Presidência. Junto com a celebridade, s denúncias de tráfico de influência. Primeiro, Delúbio foi acusado de ajudar a liberar R$250 mil para a Santa Casa de Buriti Alegre e um empréstimo público de R$3,5 milhões ao frigorífico Avibal, pertencente ao amigo Adalberto Martins, o Betinho.

Depois, entrou no olho do furação ao organizar shows com a dupla Zezé Di Camargo e Luciano para financiar a compra da nova sede do PT. O GLOBO revelou que um dos shows foi pago pelo Banco do Brasil.

Finalmente, um empresário envolvido com a máfia dos vampiros, que desviava dinheiro do Ministério da Saúde, citou o petista como beneficiário do esquema e vinculou seu nome ao de PC Farias, ex-tesoureiro de Collor. Apesar de ter seu nome envolvido em episódios controversos, Delúbio nunca foi investigado pelo PT.