Título: Guerra judicial pelo voto
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 20/10/2004, O Mundo, p. 29

Começou a batalha legal. Em praticamente todos os estados onde pesquisas indicam resultado apertado, grupos de direitos civis e diretórios dos partidos estão entrando com ações judiciais para denunciar manobras para dificultar o voto de negros e latinos, acusar grupos de impedir o registro de milhares de novos eleitores e até para pedir a proibição do uso de máquinas eletrônicas, vistas com desconfiança. São os fantasmas da eleição de 2000 que continuam assombrando o país e levando ONGs e os dois partidos a formarem brigadas de advogados e militantes para agirem a qualquer sinal de irregularidade, tentando evitar fraudes e impedir a repetição do fiasco de quatro anos atrás nas eleições de 2 de novembro.

Na Flórida, o estado-problema, dez ações foram impetradas, algumas contra normas que reduzem as opções de postos de votação e outras devido a registros de eleitores impugnados, numa reedição das irregularidades constatadas em 2000. Segunda-feira, enquanto milhares de eleitores já usavam as máquinas eletrônicas para votar, um juiz federal determinou que era preciso ter uma cópia em papel do voto eletrônico para o caso de necessidade de recontagem, o que é impossível no caso desses equipamentos. Em Nova Jersey, uma associação de cidadãos e vereadores entrou com ação na Suprema Corte pedindo a proibição do uso de oito mil máquinas eletrônicas, com o mesmo argumento usado na Flórida.

Grupos caçam eleitores nas ruas

Em Nevada, democratas acusam na Justiça um grupo a serviço dos republicanos de estar jogando fora registros de novos eleitores quando descobrem que eles pretendem votar em John Kerry, adversário do presidente George W. Bush na eleição. Pela lei americana, as pessoas não precisam se registrar em agências, e muitos grupos saem às ruas à caça de novos eleitores. Uma pessoa contratada por republicanos para esse trabalho denunciou a fraude, aparentemente já comprovada: ontem, no segundo dia de votação antecipada, três pessoas não conseguiram votar porque seus nomes não estavam nas listas eleitorais, apesar de terem se registrado.

Num dos casos, Dwights Brandon, de 44 anos, contou que se registrou na porta de um shopping center, dizendo a uma moça do Partido Republicano que é democrata. Ontem, seu nome não estava na lista.

¿ Vamos entrar na Justiça em nome deles ¿ disse André Ramirez, diretor do grupo Vozes para Famílias de Trabalhadores, um dos muitos que fiscalizam a votação no país.

Em Ohio, a batalha legal teve início quando o secretário de estado, o republicano J. Kenneth Blackwell, baixou uma série de regras para, segundo democratas, dificultar o voto em Kerry. O Partido Democrata o acusa de recusar o registro de milhares de eleitores, sob vários argumentos. Ele alega estar tentando prevenir fraudes, argumento usado em ações movidas por representantes dos dois partidos em estados como Novo México, Pensilvânia e Colorado.

¿ Estamos dispostos a não deixar a história de 2000 se repetir. Em Ohio, 700 mil novos eleitores se registraram e os republicanos vão tentar impedi-los de votar porque acham que 60% das fichas não foram preenchidas corretamente ¿ diz o democrata Alan Unger que vai votar antecipadamente na Califórnia e viajar para Ohio.