Título: Queda de preços no atacado chega ao varejo e pressão inflacionária cai
Autor: Fabiana Ribeiro e Geralda Doca
Fonte: O Globo, 07/06/2005, Economia, p. 26

IPC-S fecha última semana de maio com queda de 0,20 ponto percentual

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Os índices de inflação vêm dando sinais de que estão perdendo o fôlego, o que reforça os argumentos dos analistas para uma queda da taxa de juros pelo Banco Central. Agora, avaliam, uma redução dos juros só não aconteceria por causa da crise política. Do ponto de vista da inflação, um corte já seria possível.

O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), divulgado ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), segue o ritmo de desaceleração já apontado nas últimas apurações do IGP-M e do IPC da Fipe. O índice registrou alta de 0,79%, 0,20 ponto percentual abaixo da última apuração. Este é o menor resultado desde a última semana de março (0,70%).

¿ Com o fim dos efeitos de seca e entressafra, os preços dos alimentos no atacado tiveram queda. Agora, essa redução chega ao varejo. E é exatamente isso que está refletido no IPC-S ¿ disse André Braz, coordenador do IPC da FGV.

Especialistas prevêem desaceleração da inflação

A desaceleração da inflação também voltou a aparecer nas projeções do mercado financeiro. Pela terceira vez consecutiva, analistas ouvidos pelo Banco Central reduziram as expectativas de inflação deste ano, indicando para o BC ¿ que se reúne semana que vem para decidir sobre os juros ¿ que o índice de preços está relativamente sob controle e não deverá romper o teto de 7%. Segundo a pesquisa ¿Focus¿, com cerca de 100 instituições financeiras, a estimativa para o IPCA em 2005 caiu de 6,35% para 6,32%. A expectativa para este mês caiu de 0,36% para 0,35%.

Para Alex Agostini, economista da GRC Visão, a queda é importante porque revela acomodação da pressão inflacionária e dá certo alívio ao BC.

Segundo Braz, a desaceleração do IPC-S deve se repetir nos próximos IGPs. Como no IGP-DI, que será divulgado na próxima quarta-feira pela FGV:

¿ Essa queda de preços no varejo pode se intensificar.

Para João Gomes, economista do Instituto Fecomércio-RJ, se a política monetária do BC olhar para os índices de inflação, a instituição deve manter a taxa de juros:

¿ Com a inflação em desaceleração, o BC deve, ao menos, manter a atual taxa de juros. Mas é claro que o ideal seria baixá-la ¿ diz Gomes.

Custo de vida em São Paulo também começa a ceder

Gomes acrescenta que o IPCA (índice usado nas metas de inflação) de junho deve registrar queda significativa.

¿ O IPCA de junho deve ficar entre 0,3% e 0,4%. E isso já mostra que não cabe mais qualquer elevação de juros.

O Índice do Custo de Vida (ICV) na cidade de São Paulo é outro indicador de desaceleração. Em maio, ficou em 0,39%, contra alta de 0,50% em abril. Foi o segundo menor índice do ano, atrás apenas do registrado em fevereiro, quando a inflação pelo ICV foi de 0,32%. A informação foi divulgada ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (Dieese) e revela ainda que os preços dos alimentos e os gastos com saúde foram os que mais influíram no índice, afetando o orçamento das famílias de menor poder aquisitivo. No grupo alimentação, os preços tiveram uma alta média de 0,85%. Os alimentos industrializados registraram um aumento de 1,12% e os in natura e semi-elaborados, de 0,76%. (Com Globo Online)