Título: GOVERNO RECUA E APÓIA CPI, MAS SÓ DOS CORREIOS
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O País, p. 3

Oposição obstrui votação na CCJ da Câmara para impedir que apuração seja limitada

BRASÍLIA. O governo teve de recuar. Sem condições de continuar tentando enterrar a CPI dos Correios, governo e partidos da base, com o PT à frente, se renderam à necessidade de apoiar sua instalação. Deputados e senadores do PT amanheceram o dia confirmando apoio às investigações e chegaram a falar em duas CPIs, a dos Correios e a do mensalão. Mais tarde recuaram, passando a defender uma CPI restrita sobre as denúncias de corrupção nos Correios, mas não conseguiram aprovar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) esse engessamento das investigações.

Coube ao ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, comunicar ontem ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que o governo vai colaborar com as investigações. Aldo reconheceu que o Planalto mudou de posição com as denúncias de compra de deputados pelo PT.

- A decisão da CPI é do Congresso, mas posso dizer que o governo vai colaborar com todas as investigações de denúncias surgidas no âmbito do Congresso - disse Aldo.

O ministro desconversou ao ser perguntado por que o presidente Lula não aproveitou as demissões no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e nos Correios para demitir os ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, alvos de investigações:

- Não é o caso de dois pesos e duas medidas. É o caso de uma investigação nos Correios que já avançou bastante. No caso dos ministros, o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal pediram abertura de inquérito, mas a investigação ainda não apresentou qualquer coisa que desse ao presidente da República elementos para tomar uma decisão.

Após várias reuniões, líderes governistas e aliados decidiram articular a aprovação do parecer do relator Inaldo Leitão (PL-RN), que considerava constitucional o pedido de CPI, mas mudava o texto do requerimento, vetando investigações do mensalão e em outras estatais.

Sem acordo, a oposição obstruiu a sessão e, depois de meia hora de intensa troca de acusações, não deixou nem que o parecer fosse lido.

- Obstruir hoje é uma estratégia para garantir uma investigação completa de todas as denúncias de corrupção que maculam o coração do governo Lula e deixa estarrecida a população. Não aceitamos uma CPI pela metade - disse o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

A decisão de defender a CPI foi acertada em reunião de líderes aliados anteontem à noite, quando ficou claro que não dava mais para brigar contra a comissão. Na Câmara coube ao líder do PT, Paulo Rocha (PA), avisar aos estrategistas do governo que não tinha mais como pedir aos aliados para barrar a CPI. No Senado, em telefonemas a Aldo Rebelo e ao presidente do PT, José Genoino, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), antecipou decisão de apoiar a CPI.

Alguns parlamentares admitiram que a mudança foi aprovada depois de uma avaliação interna de que a CPI sairia de qualquer jeito e seria melhor apoiá-la para tentar manter o controle sobre as investigações. Mercadante nega que tenha sido um recuo:

- Sempre dissemos que se fosse uma CPI com fato determinado, nós apoiaríamos.

Mas ninguém no PT cobrou investigação no partido para apurar o envolvimento do tesoureiro, Delúbio Soares, com o mensalão.

- É um assunto que a executiva nacional do partido deverá analisar amanhã (hoje) - desconversou Mercadante.

O líder do PFL Rodrigo Maia (RJ) descartou a proposta do governo de restringir as investigações à cobrança de propina nos Correios. Mais tarde, porém, pefelistas e tucanos votaram atrás e aceitaram conversar hoje.

COLABORARAM Valderez Caetano e Cristiane Jungblut

"O governo vai colaborar com todas as investigações de denúncias surgidas no âmbito do Congresso"

ALDO REBELO , Coordenação Política

Legenda da foto: FAIXA DO SINDICATO dos Servidores do Legislativo e do TCU em Brasília pede CPI para investigar mensalão