Título: Acuado, PL pede processo contra o acusador
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O País, p. 10

Ex-titular da pasta de Transportes, Anderson Adauto é citado como ministro que teria se reunido com petebista

BRASÍLIA. Antecipando-se a possíveis novas acusações contra o partido no escândalo do mensalão, o PL entrou ontem com uma representação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara pedindo abertura de processo disciplinar contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) por quebra de decoro. Jefferson acusou a existência de um esquema de pagamento de R$30 mil por mês para deputados do PL e PP. A informação que corria ontem no Congresso era de que o esquema do mensalão teria um braço no Ministério dos Transportes, na gestão do ex-ministro Anderson Adauto (PL), hoje prefeito de Uberaba.

Nome de Adauto surgiu nas conversas de parlamentares

Na ofensiva contra Jefferson, o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), voltou a chamá-lo, ontem, de chantagista e pediu a sua cassação. Segundo ele, depois da abertura do processo no Conselho de Ética, Jefferson não poderá mais renunciar ao mandato. A expectativa do PL é que o processo seja instalado ainda esta semana:

- O Jefferson é um chantagista, não pode pôr o Congresso sob suspeita. O PL é um partido de homens honrados. Não aceito ameaças. Se Jefferson não trouxer à Câmara fatos concretos, será rito sumário no processo de cassação.

Nas conversas de grupos e nos corredores do Congresso, Anderson Adauto era apontado ontem por parlamentares próximos a Jefferson como o provável ministro que, segundo relato do presidente do PTB, teria participado de uma reunião num gabinete da Esplanada dos Ministérios para pôr em prática o suposto esquema do mensalão. O deputado Miro Teixeira (PT-RJ) afirma que ouviu de Jefferson o relato dessa cena num gabinete ministerial onde estavam um ministro, um chefe de departamento e três líderes partidários.

O relato teria sido feito em seu gabinete na presença do deputado João Lyra (PTB-AL). Procurado pelo GLOBO, Lyra não retornou o telefonema. Ontem, Mirou negou-se a revelar o nome do ministro que teria participado da cena de corrupção.

- Meu segredo só pode favorecer a República. Quem tem que falar sobre este episódio é o próprio Jefferson. Ou ele omitiu porque é mentira ou a história que ele me contou é verdade e está guardando como trunfo para uma tréplica - disse Miro.

Antes de ser citado como possível envolvido nas denúncias sobre o esquema de mensalão, Anderson Adauto reagiu. Atribuiu o envolvimento de seu nome ao fato de ter demitido, em junho de 2003, o então diretor financeiro do Departamento de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), Sérgio Pimentel, indicado pelo PTB. Contou que o demitiu por ter evidências de que ele estava abordando empreiteiros para tirar vantagens financeiras na liberação de recursos. Na ocasião, Pimentel acusou Adauto de favorecer a empreiteira Queiroz Galvão na cronologia de pagamento de dívidas do governo, segundo reportagem da revista "IstoÉ".

- Tenho um fato concreto durante a minha gestão contra o PTB. Eu demiti o diretor financeiro do Dnit, Sérgio Pimentel, por evidências de que ele estava tentando tirar vantagens do dinheiro que seria liberado para as empreiteras. Não tive provas, mas ouvi relatos de pessoas do mercado que procuraram o Dnit na ocasião e denunciaram Pimentel. Como ele se negou a pedir demissão, tive que demiti-lo - disse Adauto.

Adauto: "Não me lembro de ter recebido Jefferson"

Ele nega ter recebido Jefferson em seu gabinete ou que tenha se reunido com líderes partidários ou diretor de departamento para tratar de mensalão:

- Nunca fiz reunião com chefe de departamento do Dnit ou líderes partidários para tratar de mensalão. Não me lembro de ter recebido Roberto Jefferson no meu gabinete. Aliás, em 2003, o presidente do PTB era o deputado José Carlos Martinez (já morto) - disse Adauto.

Legenda da foto: VALDEMAR COSTA Neto e Sandro Mabel entregam a representação contra Jefferson ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (centro)