Título: CÂMARA ABRE SINDICÂNCIA PARA APURAR O MENSALÃO
Autor: Luiz Fernando Rocha e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O País, p. 12

Severino se irrita ao ter de responder por que a investigação não foi feita no início do ano

BRASÍLIA. A pedido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), o corregedor da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI), vai abrir sindicância para apurar as denúncias de pagamento de mesadas a cerca de cem deputados da base e a participação do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), no suposto esquema de fraude nos Correios.

O anúncio da investigação foi tumultuado. Severino se irritou ao ser indagado por que as denúncias não foram aprofundadas no início do ano. Logo depois de eleito, ele deu entrevista citando um suposto esquema de mesada para parlamentares mudarem de partido.

O presidente da Câmara alegou que, na época, eram apenas conjectura. Diante da insistência de jornalistas, Severino interrompeu a entrevista e deixou o Salão Verde. Nogueira anunciou que pretende ouvir Jefferson ainda hoje, se ele concordar:

- Temos que fazer isso o mais rápido possível.

A abertura da sindicância atendeu também a representações feitas por três deputados - Ricardo Zaratini (PT-SP), José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Raul Jungmann (PP-PE) - apresentadas em 12 de abril, no caso do pagamento do mensalão denunciado pelo prefeito do Rio César Maia; e do deputado Alberto Fraga (PMDB-DF) no caso das irregularidades dos Correios. Os requerimentos de Zaratini, Cardozo e Jungmann só chegaram ontem à Corregedoria, porque passaram antes pela Procuradoria da Casa, que resolveu arquivá-los semana passada.

Em março, pouco após assumir o cargo, Severino declarou à imprensa: "Tenho ouvido muita história assim. Haveria deputados que receberam R$20 mil, R$30 mil para trocar de legenda. Não tenho provas, mas não consigo entender como é que um deputado entra num partido de manhã e sai à noite",

Irritação ao ser indagado sobre isenção de Nogueira

Severino disse que é contra a criação de uma CPI para investigar as denúncias e que só vai se posicionar depois que o corregedoria decidir. Ele também demonstrou irritação quando perguntado se Nogueira teria isenção para julgar o assunto.

Mais tarde, na abertura dos trabalhos, Severino fez um discurso em que reagiu à estratégia do Palácio do Planalto de pôr a Câmara como pivô do escândalo envolvendo o pagamento de mesadas. Segundo ele, a crise não nasceu no Congresso:

- Repilo veementemente a tentativa daqueles que pretendem lançar sobre os ombros do Poder Legislativo a responsabilidade exclusiva pelas dificuldades políticas do momento. A semente da atual crise não brotou no Congresso. Ela germinou alhures, cresceu e seus tentáculos insidiosamente se estenderam, é verdade, é alcançaram o Poder Legislativo.

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