Título: 'O presidente Lula não é o presidente Collor'
Autor: Luiz Fernando Rocha e Flávio Freire
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O País, p. 12

'Felizmente ele não tem na oposição o PT, que sequer imagino o que faria se a situação fosse inversa', completa Aécio

BELO HORIZONTE e SÃO PAULO. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode ser comparado ao ex-presidente Fernando Collor de Mello. Segundo Aécio, é preciso respeitar a trajetória de Lula e dar ao presidente a oportunidade de retomar o comando do processo político, garantindo a lisura das investigações.

- O presidente Lula não é o presidente Collor. Lula tem ainda uma grande credibilidade perante os brasileiros e deve falar diretamente a esses brasileiros.

Para Aécio, não há risco de crise institucional:

- O presidente Lula é maior do que este episódio. Quando eu faço esta lembrança é para que tenhamos também respeito à trajetória do presidente e possamos dar a ele a oportunidade de retomar o comando desse processo, garantindo a lisura das investigações e, ao mesmo tempo, trabalhando para que o país continue avançando, votando a reforma tributária, avançando na reforma política, enfim, fazendo o que um governante deve fazer.

O governador disse ainda que as denúncias são graves e que o esclarecimento dos fatos interessa ao país e ao próprio PT.

- Felizmente, Lula não tem na oposição o PT, que eu sequer imagino o que faria se a situação fosse inversa. O PSDB exige rigor nas investigações, mas terá responsabilidade para garantir a estabilidade política.

Alckmin diz que falta coragem

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sugeriu que falta "coragem de homem público" a Lula para enfrentar CPIs e que, por isso, prefere dar "respostas pífias" à sociedade. Sobre as articulações e declarações do governo e do PT sobre a crise, Alckmin foi enfático:

- Não é possível respostas tão pífias e tão pouco esclarecedoras à sociedade como vimos ontem e hoje.

Alckmin partiu para o ataque ao rebater declarações de petistas de que seu governo promoveu uma operação-abafa para evitar a instalação de 44 CPIs.

- A Assembléia Legislativa é um outro poder, independente. Existe uma tática de política antiga, que é a do acusado acusar o vizinho. Essa é uma coisa passada. Homem público deve ter coragem para assumir responsabilidade. Tem que dizer: 'Olha, estou com problemas e devo satisfação à sociedade'. E não ficar tergiversando, querendo passar responsabilidade para terceiros - afirmou Alckmin.

Alckmin disse não ter tido conhecimento do mensalão:

- Não sabia (sobre o pagamento de mesadas) e nem conversei com o governador Marconi Perilo a esse respeito. Entendo que precisamos nesse momento é investigar. Não há mais dúvida sobre a necessidade de uma CPI, até pela extensão das denúncias. Não cabe ao governo abafar, assim como não cabe à oposição transformar isso em luta eleitoral.

Legenda da foto: GERALDO ALCKMIN: "NÃO HÁ mais dúvida sobre a necessidade de uma CPI"