Título: PEDOFILIA CAI NA REDE DA PF
Autor: Dicler Simões
Fonte: O Globo, 08/06/2005, Rio, p. 15

Preso acusado de ter o maior arquivo de imagens pornográficas de menores no Brasil

A Polícia Federal prendeu ontem em Volta Redonda, no Sul Fluminense, o engenheiro e professor de artes marciais Anderson Luiz Juliano Costa Borges, de 33 anos, supostamente dono do maior arquivo de imagens pornográficas de crianças no Brasil. A ação foi a primeira da Operação Anjo da Guarda, que a PF deflagrou para cumprir 21 mandados de busca e apreensão em nove estados, com o objetivo de desbaratar uma rede de pedofilia. Anderson foi preso às 6h, em sua casa no Jardim Belvedere. Uma outra equipe apreendeu arquivos com imagens pornográficas de crianças numa casa no bairro Liberdade, em Resende, que seria usada por Anderson para aliciar menores.

A PF começou as investigações sobre a rede de pedofilia há nove meses. Em dezembro, foram apreendidos na casa de Anderson dois computadores e 160 CDs com cerca de 280 mil fotos de crianças entre 9 e 13 anos nuas. Técnicos do Instituto Nacional de Criminalística em Brasília começaram, então, a trabalhar para descobrir as senhas que protegiam os arquivos nos computadores. Eles só conseguiram a senha de um dos equipamentos. Foram descobertas fotos em que o engenheiro aparece fazendo sexo com crianças. Segundo a polícia, havia ainda cenas de sexo com bebês. Os arquivos do acusado podem ter mais de um milhão de imagens.

O caso foi descoberto depois que autoridades espanholas, investigando pedofilia na internet, viram uma foto do engenheiro com o nome da cidade de Volta Redonda ao fundo. A PF foi avisada por agentes espanhóis. Em poucas horas, policiais da Delegacia de PF em Volta Redonda localizaram Anderson. Desde então, o material recolhido na casa vinha sendo periciado, até que a Justiça expediu o mandato de prisão cumprido ontem.

Em casa, fantasias de super-heróis

Num dos três quartos da casa onde Anderson morava com os pais e os irmãos, policiais recolheram ontem fantasias infantis de super-heróis e uma réplica de espada. O material aparece em várias fotos de crianças. O delegado Ronaldo Menezes, da Delegacia de Defesa Institucional da Superintendência da PF, encarregado da Operação Anjo da Guarda no Rio, evitou dar detalhes das imagens porque o processo está sob segredo de Justiça.

- Ele está sendo preso por atentado violento ao pudor, pois aparece em mais de 20 imagens abusando de crianças. Há fotos de crianças nuas expondo os órgãos genitais, fazendo poses comuns em artes marciais. Ele não só transmitia fotos pela internet como fazia produção de fotos e clips. Não tenho conhecimento de um arquivo tão grande. Só num computador encontramos 50 mil fotos de crianças. Quando revelarmos quadro a quadro os filmes apreendidos, o arquivo deverá passar de um milhão de imagens - disse Ronaldo.

Na Superintendência da PF do Rio, Anderson disse que as fotos são montagens e que as crianças não estão nuas. A perícia, porém, já comprovou que nenhuma imagem foi modificada. O acusado teria fornecido à polícia nomes de pré-adolescentes que teriam sido molestados por ele. Duas vítimas já teriam sido identificadas. O delegado tem 30 dias para concluir o inquérito, com direito a prorrogá-lo por mais 30 antes de remeter o material com a denúncia ao Ministério Público. Por cada criança que aparece nas fotos, o engenheiro pode ser condenado a uma pena de seis a dez anos de prisão. Ronaldo pediu aos pais das crianças que compareçam à PF de Volta Redonda para reconhecer os filhos nas fotos, procedimento necessário para incriminar o acusado.

Quando a polícia apreendeu o material em dezembro, o dono da Set Point Academia, José João Sales, afastou Anderson, que dava aulas de tae-kwon-do para um grupo de 20 alunos (a maioria crianças). Ele costumava levá-los para casa e organizar excursões para Angra dos Reis.

- Ele é meu vizinho e, ao saber do problema, reuni os pais das crianças e disse que o afastara. Ele era um professor competente e dedicado. É difícil acreditar que ele fosse ligado a pedofilia - disse o dono da academia.

Os pais e irmãos do engenheiro não quiseram dar entrevista. Tão logo o acusado foi preso, parentes fecharam a casa e, segundo vizinhos, teriam viajado.

A Polícia Federal suspeita que cem pedófilos façam parte da rede acusada de produzir, distribuir ou receber imagens de abuso sexual de crianças pela internet. Pelo menos 15 dos acusados reconheceram ontem o envolvimento no crime durante a operação. Um deles é um conhecido advogado de São Paulo. Quando os policiais chegaram à casa dele, o advogado se trancou no banheiro e se recusou a abrir a porta. Os policiais recolheram o material pornográfico e retornaram à sede da Superintendência da PF. Além de Anderson, ninguém mais foi preso. Os demais acusados, no entanto, podem ser detidos após a análise do material recolhido.

A PF apreendeu material erótico envolvendo crianças também em Passo Fundo (Rio Grande do Sul), São Luiz, São José dos Pinhais (Paraná), Avaré (São Paulo), Alfenas e Belo Horizonte (Minas Gerais), Cuiabá e Criciúma (Santa Catarina).

OUTROS CASOS OCORRIDOS NO RIO

Não é a primeira que acusados de pedofilia no Rio vão parar na cadeia. Em maio deste ano, o corretor de imóveis Jorge Alberto Carneiro de Albuquerque, de 44 anos, foi preso em flagrante tentando aliciar um menor de 13 anos em frente à Escola Estadual Pinto Lima, no Centro de Niterói. Segundo a polícia, o corretor estava sendo investigado há quatro meses, depois da denúncia de que ele, diariamente, levava menores a seu apartamento. Ainda de acordo com a polícia, Jorge procurava abordar meninos de famílias pobres, prometendo emprego e presentes.

Em agosto do ano passado, o primeiro-tenente do Exército Paulo Roberto França de Sousa foi condenado a oito anos de prisão, em regime fechado, pelos crimes de atentado violento ao pudor e ameaça. O processo foi apontado como o primeiro caso de pedofilia investigado num batalhão do Exército no Rio. Investigadores descobriram que o militar tinha material pornográfico em seu computador no Centro Tecnológico do Exército. Foram apreendidos 35 CDs com centenas de fotografias e vídeos eróticos de crianças. Além disso, o oficial foi acusado de tentar manter relações sexuais com dois menores, de 10 e 14 anos, no batalhão.

Em fevereiro de 2001, agentes da DPCA apreenderam material pornográfico na casa de um americano de 63 anos na Rua Constante Ramos, em Copacabana. Segundo denúncia recebida pela polícia, o homem vendia fotografias de crianças e adolescentes nuas. No apartamento, um item apreendido intrigou os policiais: um saco de pirulitos.

Em outubro de 2000, policiais da DPCA prenderam, num bar em Copacabana, o aposentado americano Jeffrey Daniel Herbst, de 62 anos, acusado de aliciar menores na Avenida Atlântica para fazer programas com brasileiros e estrangeiros. O americano vinha sendo investigado há 20 dias e em seu apartamento, no Leme, foram encontradas fotos eróticas de menores.

COLABOROU: Jailton de Carvalho