Título: EUA SUGEREM ENVOLVIMENTO DE CHÁVEZ
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O Mundo, p. 32

Acusação de Noriega sobre crise boliviana aumenta tensão em reunião da OEA

FORT LAUDERDALE, Flórida. Um gesto desastrado do secretário de Estado assistente dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Roger Noriega, e que foi definido por alguns de seus colegas como "uma barbeiragem diplomática", acrescentou ontem um pouco mais de tensão à crise boliviana.

Em entrevista à agência de notícias France-Presse, durante a assembléia-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), ele insinuou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estaria desempenhando um papel determinante para a queda de seu colega boliviano, Carlos Mesa.

- O perfil do presidente Chávez nos acontecimentos da Bolívia é óbvio para todo o mundo, porque ele expressou a sua disposição de trabalhar com vários setores (bolivianos). Isso é realmente preocupante - disse ele.

O chanceler venezuelano, Ali Rodríguez, reagiu com muita indignação. Depois de assegurar que seu país dava apoio total a Mesa e esperava que a crise fosse solucionada de forma pacífica e democrática, ele disparou:

- Não quero ficar me referindo ao senhor Noriega, mas parece que ele está sempre jogando lenha na fogueira, quando a tarefa dos diplomatas é a de apagar qualquer fogo.

Funcionários do Departamento de Estado entraram em ação, dizendo que Noriega fora mal interpretado; ainda que não desmentissem as declarações. Pouco depois, o próprio Noriega, em curta nota, confirmaria o deslize: "O papel de Chávez na Bolívia é evidente e fala por si mesmo."

Por fim, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, praticamente desautorizou Noriega ao dizer, em Washington, que os EUA estavam prontos a ajudar, se necessário:

- Todos reconhecemos que é um momento difícil para a Bolívia, os bolivianos e o presidente Mesa. Acho que estimularíamos uma resolução constitucional pacífica e democrática às tensões que existem na Bolívia.

Os embaixadores dos 34 países da OEA aprovaram declaração pedindo aos bolivianos uma solução "que preserve a democracia e garanta a unidade do país", afirmando que o organismo só intervirá caso seja convidado.

A proposta dos EUA para que a OEA criasse um mecanismo para monitorar a qualidade da democracia na América Latina - com poderes para deflagrar uma intervenção em países cujos governos, a seu ver, não estivessem administrando de forma adequada - foi plenamente rejeitada.

A iniciativa era o principal tema da assembléia, mas acabou retirada da pauta. Houve consenso de que deveria prevalecer o que os governos vinham enfatizando: implementar mecanismos que já constam da Carta da OEA e da Carta Democrática Interamericana.

- Chegamos a uma resolução que tem caráter operativo, formulada de uma maneira que atende à preocupação de todos os países - disse ao GLOBO o embaixador do Brasil na OEA, Osmar Chohfi.