Título: Genoino: 'Más companhias são assunto do governo'
Autor: Flávio freire, Soraya Aggege e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O País, p. 5

Mesmo pressionado, PT mantém Delúbio no cargo, temendo que saída de tesoureiro pareça confissão de culpa

SÃO PAULO. A crise provocada pelas acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) azedou o clima entre o PT e o governo. O presidente do PT, José Genoino, não apenas protegeu o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, como disse ontem que as "más companhias" são um problema do governo e não do PT. Foi uma resposta ao ministro das Cidades, Olívio Dutra, que criticara as alianças do PT com partidos como o PTB.

- Más companhias são assunto do governo, não do PT. O PT participa com os aliados, com a sustentação do governo. É fundamental a coesão da base para governar. O PT considera que as alianças foram importantes tanto no segundo turno quanto para aprovar as reformas. E vamos continuar fazendo alianças - disse Genoino.

Desde o início da crise, Genoino se diz favorável à permanência de Delúbio no cargo de tesoureiro e dirigente do PT. A manutenção de Delúbio na comissão executiva teve o apoio das correntes de centro e de esquerda petistas, mas teria sido defendida por pelo menos três integrantes da cúpula nacional, aliados à própria corrente de Genoino, o Campo Majoritário.

Movimento inédito no PT

A coesão do Campo Majoritário foi abalada pela primeira vez e Genoino acabou tendo a decisão apoiada pelas correntes de esquerda e centro, num movimento até agora inédito no PT. A avaliação foi de que um afastamento de Delúbio, mesmo que voluntário, enfraqueceria o partido diante das denúncias de corrupção contra o tesoureiro e caixa da campanha de Lula em 2002. No entanto, os três integrantes do Campo Majoritário pretenderiam seguir uma orientação do ministro Luiz Gushiken (Comunicação do Governo) e do senador Aloizio Mercadante.

Segundo dirigentes petistas que não quiseram se identificar, Gushiken e o chefe da Casa Civil, José Dirceu, teriam pedido a cabeça de Delúbio. Seria uma forma de o PT assumir a crise, livrando o governo das acusações. Ontem de manhã, o secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, admitiu a existência de rumores sobre o afastamento.

De acordo com esses dirigentes, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, teria sugerido o afastamento do tesoureiro até que a situação se acalme. O PT nega enfaticamente os pedidos. Empenhado em descartar a crise entre o PT e o governo, Genoino já vinha afirmando, desde a manhã de ontem:

- Não há areia entre o PT e o governo. Não há areia entre o PT e o presidente Lula.

'Ele (Delúbio) deve julgar se atrapalha'

BRASÍLIA. O ministro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Jaques Wagner, disse ontem que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, é quem deve julgar se deve permanecer ou não no cargo. O ministro considerou que Delúbio respondeu bem às perguntas na entrevista coletiva:

- Acho que ele deveria fazer um julgamento para ver se ajuda ou atrapalha o PT (mantendo-se no cargo). Mas como a gente só tem a palavra de uma pessoa acusando genericamente outras, (Delúbio) poderia esperar mais um pouco.

Jaques Wagner disse que não interessa ao governo que o PTB saia da base e criticou o ministro das Cidades, Olívio Dutra, que anteontem disse que a crise se deve ao fato de o governo andar em más companhias:

- Olívio não falou em nome do governo.

Decidido a desanuviar o mal-estar em relação à declaração de Olívio, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, foi à Câmara explicar aos líderes da base que o governo discorda das afirmações. Aldo pediu audiência com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Ele defendeu a reforma política e também disse que a posição de Olívio não é a do governo.

- O ministro falou em seu próprio nome, não falou em nome do governo. O governo contraiu alianças para mudar o país e fazer as mudanças prometidas em campanha. Portanto, as companhias são aquelas que o governo têm para governar - afirmou Aldo.

Deputados da base não esconderam a irritação. O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) saiu da reunião das bancadas do partido dizendo que as declarações de Olívio ficaram engasgadas.

- E o Delúbio? Não é má companhia? - indagou Capixaba.

Olívio Dutra, sob orientação do Planalto, divulgou uma nota afirmando que alianças políticas são importantes, mas que condutas pessoais não podem "tisnar (manchar) a relação" com a base aliada.

Legenda da foto: JOSÉ GENOINO COM Delúbio: "O PT considera que as alianças foram importantes tanto no segundo turno quanto para aprovar as reformas"