Título: RAIZ DA CORRUPÇÃO
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Fonte: O Globo, 09/06/2005, Opinião, p. 6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da inércia na terça-feira e afinal avançou para começar a enfrentar a mais grave crise política dos últimos tempos no país e a mais séria ameaça à sua biografia e ao seu futuro como homem público. Os primeiros movimentos executados pelo presidente serviram para formalizar seu distanciamento em relação ao esquema de corrupção montado pelo PTB nos Correios e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e para ele se comprometer com a seriedade nas investigações e conseqüentes punições, mesmo de auxiliares próximos e estrelas do PT. Foram passos corretos.

Porém, no discurso que fez no Fórum Mundial de Combate à Corrupção, e no qual assumiu esses compromissos, Lula demonstrou ainda não compreender as raízes mais profundas da crise política. Ao criticar as privatizações e responsabilizá-las pelo aumento da corrupção, o presidente da República contrariou a lógica. Porque aliados do Planalto só conseguiram instalar esquemas espúrios e de corrupção dentro da máquina pública por causa das imensas possibilidades de acesso criminoso ao dinheiro do contribuinte dadas por um Estado de proporções mastodônticas.

Ao contrário do que acredita Lula, a privatização, ou extinção de estatais, e a modernização da administração direta são medidas contrárias à corrupção e a assaltos ao Tesouro Nacional.

Se o Estado brasileiro tivesse proporções aceitáveis, pudesse ser financiado pelo contribuinte sem a necessidade de cobrança de impostos absurdos, não existiriam os mais de 20 mil cargos ditos de confiança utilizados pelo governo para atrair apoio parlamentar. Não existiria o IRB, dono de um anacrônico monopólio nos resseguros, à disposição do presidente do PTB, Roberto Jefferson, para ser manipulado como agente arrecadador de dinheiro ilegal para o partido.

A proliferação excessiva de cargos de confiança é a ante-sala de desvios desse tipo. Como o aparelhamento de estatais e autarquias executado pelo próprio PT. Ou a injustificável nomeação, noticiada pelo jornal "O Estado de S.Paulo", de um amigo do ministro Luiz Gushiken numa subsidiária da Petrobras que existia apenas no papel.

Coíbem-se a corrupção e a fisiologia eliminando-se o espaço em que elas proliferam.

Privatização reduz o roubo do dinheiro público