Título: PMDB ESPERA QUE CRISE ANTECIPE A REFORMA
Autor: Adriana Vasconcelos e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O País, p. 8
Partido investe na condição de principal parceiro de Lula de olho em até oito ministérios
BRASÍLIA. A crise provocada pelo escândalo dos Correios pode levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a fazer a reforma ministerial que seus aliados esperam há seis meses. Nos últimos dias, Lula tem falado do assunto com auxiliares e parlamentares, todos convencidos que estas mudanças vão reduzir o espaço do PT na Esplanada dos Ministérios e o tamanho do próprio governo. Lula estuda a possibilidade de, junto com a troca de nomes, tornar a estrutura mais enxuta, diminuindo o número de pastas e cargos de segundo e terceiro escalões sujeitos a nomeações políticas.
O PMDB decidiu investir pesado pela condição de principal parceiro de Lula. A intenção é ampliar a participação peemedebista na reforma que pretende recompor a base do governo no Congresso.
Para preparar a investida do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), reaproximou-se da ala de oposição no partido e reuniu em casa, segunda-feira e terça-feira, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, o senador José Sarney (PMDB-AP) e os deputados oposicionistas Moreira Franco (RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha (RS).
Os peemedebistas, maiores interessados na reforma ministerial, acham que o partido adquiriu a condição de grande fiador do governo diante da implosão do esquema de sustentação política montado no primeiro ano do governo Lula pelo ministro José Dirceu, baseada na aliança do PT com o PTB, o PL e o PP.
Assessores do presidente disseram que Lula precisa repactuar o governo e abandonar a estratégia de inchar as bancadas do PTB, do PL e do PP. O desgaste desses aliados abre espaço para o PMDB, de quem o governo dependerá para não perder o controle da CPI dos Correios.
Neste contexto, o presidente do Senado acredita, numa avaliação muito otimista, que o partido pode sair da reforma com sete ou oito ministérios, participação compatível com o fato de ser a maior bancada no Senado e a segunda da Câmara. Por isso, seus integrantes têm evitado acompanhar o PFL e o PSDB nos ataques ao governo Lula.
- Falar em impeachment do presidente Lula é uma irresponsabilidade com o país. Não podemos compactuar com afirmações pouco responsáveis. Temos que ter firmeza, apoiando a investigação de todos os fatos, e serenidade, para não transformar a CPI num palanque eleitoral e para evitar crises institucionais - disse Michel Temer, ontem, na reunião da bancada de deputados.
A cúpula do PMDB, dividida nos últimos dois anos, está vislumbrando na fragilidade atual do governo Lula uma oportunidade única para que o partido assuma o comando do processo político. Seus integrantes firmaram uma posição comum de que em nome do país participariam de um governo de coalizão para que o governo Lula chegue ao seu final.
Conhecidos pelo seu pragmatismo, os dirigentes do PMDB deixariam para decidir no ano que vem a melhor alternativa para a sucessão presidencial. Neste aspecto persiste a divisão, pois uns apostam no apoio à reeleição de Lula, outros numa aliança com o PSDB, tendo o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, como candidato, e uma ala menor que avalia que pode-se criar condições para uma terceira via com uma candidatura do PMDB.
- Com o Lula caindo, os tucanos desgastados, nós podemos ser a terceira via - disse Darcísio Perondi (PMDB-RS), na reunião da bancada.