Título: Entre os investigadores de Jefferson, aliados
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 09/06/2005, O País, p. 9

Deputado deve depor em seu apartamento terça-feira, sendo ouvido pela Corregedoria e pelo Conselho de Ética

BRASÍLIA. O Conselho de Ética e a comissão de sindicância da Corregedoria-geral da Câmara convidaram o deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB, para prestar depoimento. Por enquanto, ele concordou que integrantes da comissão colham seu depoimento, de forma sigilosa, na próxima terça-feira, em seu apartamento em Brasília. A comissão de sindicância é composta por cinco deputados: Ciro Nogueira (presidente), Robson Tuma (PFL-SP), Odair Cunha (PT-MG), Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Léo Alcântara (PSDB-CE). O relator será Robson Tuma.

Segundo o deputado Odair Cunha, Jefferson será ouvido no apartamento funcional que ocupa em Brasília, a partir das 11h da próxima terça-feira. Os cinco deputados que integram a comissão presenciarão o depoimento, que será gravado em áudio, mas mantido em sigilo. Apenas o relatório da comissão é público.

Ricardo Izar atropela trabalhos da comissão

Com a justificativa de acelerar as investigações sobre a suspeita de pagamento de mesadas a deputados da base aliada, o presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP) - do mesmo partido de Roberto Jefferson (RJ) - atropelou os trabalhos da comissão de sindicância da Corregedoria, aberta ontem a pedido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e convidou Jefferson para falar no Conselho.

O corregedor e presidente da comissão, deputado Ciro Nogueira (PP-PI), nega o clima de disputa e afirma que vai cumprir a missão dada a ele pelo presidente Severino.

- Não estou disputando com ninguém. Estou apenas fazendo o trabalho que o presidente determinou - disse Ciro Nogueira.

Deputado quer concluir trabalho em 40 dias

O deputado Izar justifica sua atitude.

- Faremos isso o mais rapidamente possível, em 30 ou 40 dias. A sindicância, nesse caso, perde o sentido porque o conselho já foi acionado pela presidência do PL.

Segundo Ciro Nogueira, só depois de ouvir o deputado Jefferson é que a comissão decidirá que outros depoimentos serão tomados. O regimento estabelece prazo de 20 sessões para a elaboração do parecer que é submetido à Mesa Diretora da Câmara. Cabe à mesa, se houver indícios, enviar o relatório à Comissão de Ética, responsável por propor o pedido de cassação de mandato dos deputados.

No caso do Conselho de Ética, o relator escolhido foi o deputado Jairo Carneiro (PFL-BA). Segundo Izar, serão feitos três convites para que Jefferson deponha em audiência ao conselho. Se depois da terceira tentativa o petebista não atender, os trabalhos serão levados adiante, ouvindo as pessoas nominadas por Jefferson na entrevista concedida à "Folha de São Paulo". Poderá incluir a convocação dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) citados por Jefferson.

Integrantes de comissão na mira da Justiça

Líder do grupo que vai investigar mensalão teve bens declarados indisponíveis

BRASÍLIA. Pelo menos dois dos cinco integrantes da Comissão de Sindicância da Câmara criada para investigar as denúncias do suposto pagamento do mensalão a deputados já enfrentaram problemas com a Justiça. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), corregedor-geral da Câmara e presidente da comissão de sindicância, teve os seus bens declarados indisponíveis pela Justiça Federal de Brasília no início deste ano, depois de ser acusado numa ação de improbidade administrativa.

Segundo o Ministério Público, autor da denúncia contra o corregedor, Ciro teria permitido a ocupação irregular de ex-deputados em apartamentos funcionais da Câmara. Por decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de Brasília, as três liminares que tornavam indisponíveis os bens do deputado foram suspensas.

Designado relator da investigação na comissão de Sindicância, o deputado Robson Tuma (PFL-SP), filho do senador Romeu Tuma (PFL-SP), esteve envolvido em julho do ano passado numa polêmica com a Receita Federal, que apreendeu mercadorias em um jato da cervejaria Schincariol, procedente dos Estados Unidos, que seriam dele. Foram apreendidos pela PF um televisor, dois computadores, um notebook, um aparelho de fax e um telefone sem fio, avaliados em R$14.700. Segundo o piloto do avião, todo o material pertenceria ao deputado.

Róbson Tuma também foi investigado pela Corregedoria da Câmara depois de ter sido denunciado, em 2000, pela então deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA), por ofensa à honra durante reunião da CPI do Narcotráfico, no Rio, em março daquele ano. Segundo a assessoria do deputado informou na época, o processo foi arquivado a pedido da própria deputada.

Na presidência do Conselho de Ética, responsável também por um processo contra o deputado Roberto Jefferson, autor das denúncias do mensalão, estará o seu colega de partido, Ricardo Izar (SP).

Legenda da foto: REUNIÃO DA COMISSÃO de sindicância do Conselho de Ética: integrantes acertam com deputado a data e o local de seu primeiro depoimento